17 de julho de 2009

...

(O beijo - Gustav Klimt)

"Como termina um amor? - O quê? Termina? Em suma ninguém - exceto os outros - nunca sabe disso; uma espécie de inocência mascara o fim dessa coisa concebida, afirmada, vivida como se fosse eterna. O que quer que se torne objeto amado, quer ele desapareça ou passe à região da amizade, de qualquer maneira, eu não o vejo nem mesmo se dissipar: o amor que termina se afasta para um outro mundo como uma nave espacial que deixa de piscar: o ser amado ressoava como um clamor, de repente ei-lo sem brilho (o outro nunca desaparece quando e como se esperava). Esse fenômeno resulta de uma imposição do discurso amoroso: eu mesmo (sujeito enamorado) não posso construir até o fim de minha história de amor: sou o poeta (o recitante apenas do começo); o final dessa história, assim como a minha própria morte, pertence aos outros; eles que escrevam romance, narrativa exterior, mítica."
.
BARTHES, Roland. Fragmentos de um discurso amoroso
.
E o que não termina? As horas, os dias, os instantes, os sentimentos, a vida. Tudo se esvai. Tudo escorre a cada suspiro ou piscar de olhos. Bem como se esvai a lembrança do que se foi. Nada permanece imune ao término, ao sempre. Bem certo é esta sensação exata da efemeridade do tudo e de todos que percorrem nossas palpitações. O amor, mesmo ele, que cantam e escrevem eterno e interminável, mesmo ele, impregnado no lugar mais íntimo de mim, há de chegar ao seu fim, ou meramente, passar para um outro plano, uma outra atmosfera. Tornar-se tão somente fragmento disto, daquilo, de mim, dele. Porque afora das músicas e poesias, afora da fantasia que me confude a razão, me põe insana de alegrias tolas, porém doces de experimentar, há a vida, que pede ser vivida até o último sibilar dos meus lábios, até findar-se, como tudo, como sempre!
.
Lai Paiva

Nenhum comentário:

Postar um comentário