23 de dezembro de 2015


Sobre o amor... Eu amei. E estava errada sobre isso. O amor não é lindo como escrevem. É um pequeno suicídio diário a partir do momento exato em que se ramifica dentro da gente. O amor traz nomes próprios que nunca mais se apagarão das nossas memórias. E farão um eterno barulho ensurdecedor aos nossos ouvidos enamorados. O amor bagunça tudo dentro da gente. Tira cada coisa do seu lugar. E a gente desaprende a reorganizar todos os outros sentimentos. A paz se esvai. E a gente experimenta um torpor inenarrável. É o mal mais gostoso de viver. A dor mais bonita de sentir. A poesia ao avesso. Não se vive de amor, se adoece por amar. E não há cura. Porque o amor é a maior força que há dentro de nós, lutando contra nós mesmos. Mas a gente não escolhe amar. O amor nos alcança quando menos o buscamos. A gente vai sempre encontrá-lo no improvável. E vivê-lo sem pretensão. Vai ser assim pela eternidade de cada um de nós. Porque o amor não termina quando a gente acaba... Nem pra mim e nem pra ninguém...


Lai Paiva 

13 de novembro de 2015

Quem é ela?*

* presente de um dos meus amigos mais íntimos e lindos, que se fez poeta por um instante pra me poetizar. Eu, de tão encantada, pedi permissão pra trazer pra cá. Não o "poeta", mas a poesia...


26/10/15 

Quem é ELA?

Quem é esta mulher que se veste de palavras tocantes... para manter intocáveis os seus mistérios e amantes?

Que é ELA, que se compraz da poesia e de dores... para viver intensamente os seus desejos e amores?

Quem é ELA, que se despe da vaidade de se tornar conhecida... para reverenciar seu sucesso apenas após sua própria partida?

Quem é ELA, que não sabe se Quintana tem sabor de chocolate ou é o oposto... já que ambos são deliciosos e possuem o mesmo gosto?

Quem é ELA, que voa em meio a uma abelha e uma coruja colorida... enquanto assiste Roberto Carlos cantar sobre uma fera ferida?

Quem é ELA, que vê nos espinhos do cacto tanta realeza... Enquanto nutre dentro de si tanta beleza?

Quem é ELA? Olha ELA AÍ! Olha "ELAÍ"... É ELAÍ, NÉ?! É... É ELA sim...




1 de novembro de 2015

Eterna


Gosto de me demorar
Na alegria dos outros
No bem que sentimos
Numa eternidade abraçada
Em olhares ternos
Nas conversas leves
Nos lugares simples
Em verdades limpas
Na lembrança boa
Em saudades com nome
Gosto mesmo é
De ser "pra sempre"
No "pra sempre" dos outros


Lai Paiva


31 de outubro de 2015

Sobre pessoas e pessoas


Alguns têm medo da solidão
Outros, de nem tê-la ao lado
Alguns sentem tudo em demasia
Outros, pouco tem o que sentir
Alguns dão muito de si
Outros nada querem receber
Alguns fazem morada dentro da gente
Outros estão sempre de portas fechadas
Alguns estão prontos pro outro
Outros, não serão nunca pra gente
Alguns são o que julgamos ser o amor
Outros, jamais o seriam pra nós
Alguns nasceram pra gente viver
Outros, pouco sabem da nossa existência
Alguns são fragmentos da gente
Outros se negam a sê-lo
Alguns são para amar
Outros, para esquecer...



Lai Paiva

27 de outubro de 2015



Das vezes de se gostar
As vezes de ser em vão 
Nas vezes de se querer
As vezes de estar sozinha
Por vezes e tantas vezes
As vezes não são pra todos
De vez em quando eu sei
Que vez alguma é dada
Se a vez não há de ser essa...


Lai Pai 

26 de outubro de 2015



Que a gente queira
Não um amor sossegado
Mas a bagunça amorosa ideal
Que a gente busque
Não o par perfeito
Mas alguém que nos faça “nós”
Que a gente encontre
Não a certeza do “pra sempre”
Mas a paixão na indecisão do outro
Que a gente viva
Não o encontro marcado
Mas uma eternidade inesperada
Que a gente ame
Não o amor dos poetas
Mas a loucura de gostar um do outro

Lai Paiva


23 de outubro de 2015

Mais que...



Mais que o amar falta o amor. Alguém que demore no outro. Abraços infindáveis. Beijos inconfundíveis. Falta uma alma olhar para a outra e reconhecer-se. Falta coragem pra ganhar um ao outro. Falta uma intimidade mais cúmplice. Mais que a nudez de um, diluída na nudez do outro. Falta a vontade de um morar na vontade do outro. Ternamente e no tempo de cada um. Falta tempo pra perder junto. E uma eternidade para plantar. Faltam olhares poéticos. E verdade nas curvas dos sorrisos. Falta o cheiro de um repousando no abraço do outro. Falta carinho no canto da boca. E a certeza do gosto de cada um. Falta mais toque, menos solidão. Faltam menos borboletas no estômago, mais estrelas no coração. Mais que o amar falta o amor sair do papel e ganhar nome próprio. Basta  que esqueçam os lábios entreabertos...



Lai Paiva


5 de setembro de 2015



Então o amor é isso. Esse abismo antipoético entre a paz e a saudade aflitiva. Essa ausência invencível. Essa dor tão boa de sentir. Essa solidão avolumada pela distância. Essa vontade de esvaziar-se ao mesmo tempo em que se transborda de lembranças quentes e pulsantes. E amar consiste nessa insanidade linda e corrosiva.
Então o amor se escreve com mais de quatro letras e sua pronúncia transita entre uma doce melodia e uma angustiante memória. Há o desejo imensurável de voltar a vivê-lo, lutando para engolir a sã consciência de que é melhor mata-lo dentro de si.
Então o amor é mais do que era quando ele estava aqui. É o que resta de quem fica. O detalhe mais gritante, em cada lugar que se vá. O cheiro que persiste. O gosto intravenoso. O silêncio que isola do mundo externo. As canções que foram escolhidas a dois. As palavras recrutadas para acarinhar com precisão. A perda de grande parte de tudo.
Então o amor é o maior risco a se correr. A pequena morte diária de quem ama. O acerto mal calculado. A tristeza mais afável. A inspiração insensata. A esperança nascida em vão.
Então o amor é, sobretudo, esse desespero secreto que ninguém pode colher nos olhos de quem o sente. E torna tudo impossível depois que chega. E tudo inútil depois que se vai...




Lai Paiva

3 de maio de 2015

Sobre a efemeridade das coisas amorosas


Uma hora a hora passa. O dia finda. Uma hora o chuveiro falha e aquele banho morno deles esfria. Uma hora aquele cheiro suave do abraço se perde. Uma hora aquela voz marcante não marca mais nada. Uma hora o sorvete do petit gateau derrete. Uma hora o café perde os pães de queijo para melhorá-lo. Uma hora as declarações de amor silenciam. Uma hora os e-mails apaixonados perdem suas letras e frases. Uma hora a lua cheia deixa de chamar atenção. Uma hora a conchinha do dormir de conchinhas vira pro outro lado. Uma hora o beijo não encontra a outra boca. Uma hora a pele não arrepia mais nem nas temperaturas mínimas. Uma hora o açúcar acaba e o bolo de laranja perde o sabor. Uma hora a sopa esfria e não dá mais para tomar. Uma hora o telefone pára de tocar. Uma hora as mensagens não chegam mais. Uma hora perde-se o último fio de contato. Uma hora a carona da manhã não chega mais. Uma hora não se ouvem mais as mais charmosas reclamações sobre o trânsito. Uma hora certas canções preferidas deixam de ser as preferidas. Uma hora a espera não faz mais sentido. Uma hora a gente entende porque certas pessoas não suportam a ideia de usar relógios. Uma hora a gente sente um aperto em algum lugar entre o tórax e o abdómen , que dá vontade de apertar mais ainda. Uma hora tudo que era real vira lembrança. Uma hora as pessoas deixam de ser pessoas para serem saudade. Uma hora a vida se atravessa no meio do viver e causa uma bagunça tamanha. Uma hora o romance se desconstrói. Uma hora a gente é obrigado a desconstruir tudo, inclusive as memórias. Uma hora a única coisa que vai restar é um último beijo, roubado, meio a contragosto, mas só pelo fato de saber-se o último. Uma hora estas horas alcançam os nossos ponteiros. Inevitavelmente...

Lai Paiva

28 de março de 2015

Sobre uma despedida


Quando o dia chegar
E chegar a hora de ir
Não vá por inteiro
Deixe-me mais
Que um último beijo
E leve a sua certeza
De haver sempre em mim
Uma doce espera
De ser-nos outras e tantas vezes
O amor novamente
Com aquela loucura nossa
Com aquele arrepio único
Com aqueles instantes raros
E vá sem me acenar
Sem me avisar
Simplesmente voe
Pra longe da minha liberdade
Pra perto das suas escolhas
Como havia de ser
E fique por lá
Que eu vou aprender a ficar sem você
Como me impulsiona agora
Enfim...


Lai Paiva

21 de março de 2015

Sobre o Dia da Poesia


No dia da poesia eu continuo poetizando sem métrica e sem rima. Eu continuo transformando em versos tudo aquilo que não sei transformar em outra coisa. Eu continuo escrevendo, quando não for possível viver. Eu continuo juntando as palavras que não saem de perto de mim. Eu continuo amando exageradamente naquele silêncio que só os igualmente loucos de amor podem ler nas entrelinhas. Eu continuo sentindo tudo com o dobro da intensidade recomendada pela própria vida. Eu continuo guardando os sentidos e os sentimentos que não há razão para doar. Eu continuo me transcrevendo sem pudor e sem receio da exposição desmedida que os poetas acabam imprimindo e eu, os tento copiar despretensiosamente. Eu continuo sendo poeta sem ser. Eu continuo sendo poesia. Eu continuo buscando aliviar os instantes ao escrever. Eu continuo me libertando escrevendo. Eu continuo enfeitando os meus sentimentos. Eu continuo oferecendo a minha escrita aos olhos dos que me leem. Eu continuo implodindo. Eu continuo me desnudando. Eu continuo com a poesia de antes. Eu continuo com a mesma poesia. Eu continuo desejando me eternizar. Eu continuo, sim, com a poesia dentro de mim, cravada, marcada e marcante. Eu continuo com versos livres circulando dentro de mim. Eu continuo piegas por gostar tanto de poesia e por ser tendenciosa a poetizar o mínimo que escrevo. Eu continho viva e poética. Eu continuo contraditória como a poesia muitas vezes o é. Eu continuo, pois continuar é ter sempre algo mais a escrever e eu sou interminável...




Lai Paiva

17 de fevereiro de 2015

Sobre os fantasmas de cada um


Quase todo o mundo cresce ouvindo uma ou outra história assombrosa, com fantasmas e outros seres assustadores. Faz parte da infância. E quando crescemos os fantasmas continuam rondando, mas já não nos assustam mais. Passam a ter nome próprio e cheiro peculiar. Muitos deles são doces, ternos, amáveis. E eram reais até o momento que alguma coisa os move a deixar de ser. Então passam a rondar apenas a nossa imaginação solitária. Eu tenho os meus, como cada um os tem. Há aqueles que já não aparecem mais. Ficaram perdidos em algum lugar em que meus pensamentos não visitam mais. Há apenas um quase me assombrando com a mesma frequência com a qual os ponteiros do meu relógio imaginário se movimentam, contando o tempo em que já não o vejo mais. Levam meses até um fantasma tomar esta forma. E talvez leve a vida inteira para perder-se onde já não se possa mais alcançar. Talvez leve a eternidade, que nem sei se me pertence, para que não seja tão nítido o seu rosto, para que não seja tão presente a sua ausência. Há fantasmas e fantasmas. Cada um assombrando à sua maneira. Cada um com seu beijo nu, livre de qualquer impedimento àquela união. Cada um com seu poder imensurável de entrar no outro e ser-lhe a própria alma. Cada um com suas formas perigosamente sedutoras. E são para isso que servem os fantasmas: para rondar os nossos pensamentos e confundir a nossa visão, a nossa razão. Para isso que servem os fantasmas. Nos abraçar como se estivessem mesmo na nossa pele. Nos olhar como se estivessem fincados à nossa frente, em frente ao nosso desejo insano de que ainda fossem reais. Melhor quando faziam parte do nosso temor infantil. Quando o queríamos longe dos nossos corações. Pior será, talvez, quando nem fantasmas forem mais. Quando, enfim, se dissolverem como todas as lembranças, para que se tornem passado. Para que cada um livre-se daquilo que não pode mais tocar. É só o que devemos querer: não contar nem cantar fantasma algum. Antes a solidão errante... Pois, na verdade, nós devemos é ter medo dos fantasmas que aprendemos a amar na vida adulta.


Lai Paiva