31 de março de 2011

Pro dia nascer melhor...




Pois que é tão breve o tempo de ser
Pois que é tão raro o instante de agora
Sentir tão somente me rouba de mim
E eis que não tenho mais tempo sem mim
Posso, bem sei, ser mais que palavras
Mais que um sentir castrador do meu tempo
Meu viver não cabe mais na ilusão
Meu viver, sobretudo, quer voltar a ser meu
E por isso despertei pra esse dia
Com um novo olhar sobre mim
A medir-me em silêncio
E dizer quão sou grande...

Lai Paiva


29 de março de 2011

...



Infeliz de quem há de amar-te

Assim, desse amor que amei

Pois que desprezas o ato de amar

Pois que és desprezível ao amor

E tão só se põe o amor a calar-se

Porque és o mal que acomete o sentir

E abrem-se feridas onde tu tocas

E deixas amargo o olhar que era doce

O olhar que agora te quer mais que longe

Pra sempre, sempre e sempre...


Lai Paiva

27 de março de 2011

Aquela moça enganada...




















(Salvador Dali)




Aquela moça amava demais. Ela não sabia amar de menos. Não havia medida pro seu sentir. Pro seu querer. Queria em demasia. Queria ser bem quista igualmente. Quis aquele moço como quem quer cada dia de seus dias de vida. Fez dele seu presente, seu futuro. Pra ele sorriu os melhores sorrisos. Em seu ouvido disse os mais sinceros e doces "eu te amo". Em seus lábios pousou seus mais ternos beijos. Beijos de paixão e amor. Beijos de "sim, eu quero você pra sempre". Mal sabia que seria tão doído o ato de amá-lo assim. Pois que era um engano o seu amor. Pois que eram falsas as suas verdades. Pois que ele se fizera sua mais triste experiência com o amor, a pior, a mais desiludida. Deixou-se enganar, aquela moça. Deixou-se convencer porque queria tanto que fossem verdades as mentiras que falava. Falava mentiras como quem dá presentes. E ela as recebia como quem recebe verdades. Acabou. A moça não mais vai deixar-se enganar por aqueles mesmos enganos. Foi um tempo perdido o tempo que o amou. Lhe foi leal e recebeu em troca traição. Lhe foi afável e recebeu em troca o maior mal que já lhe fizeram. Ela não quer mais saber daquele moço, se está mal ou bem, por onde anda. Ela só quer agora que ele ande bem longe dela...

Lai Paiva

Um dia a casa caiu...



(Renne Magritte)


Engana-te se pensas que me enganas mais
Aqueles doces enganos de outrora
Que enfeitastes e contastes pra mim
E depois do amor confessasses
Com a mesma traição dos teus "eu te amo"
Nunca mais hão de me enganar de novo
Teus doces enganos
Pois que nunca mais deixarei
Que voltes teus olhares falsos
E tuas palavras malditas pra mim
Guarde-as pra quem as merece
Outro alguém, não eu...

Lai Paiva

25 de março de 2011

A solidão daquela moça...



Sabia ser dois, parceira, metade de um. Não sabia não sê-lo. Ser só mal cabia no seu ser. Faltava-lhe a continuação do seu meio sorriso. O ponto final das suas frases. O apreço pelas vinte quatro horas dos dias. Horas que ela só sabia agora contar, sem vivê-las. Sentia-se um pedaço de algo que era inteiro. Partiu-se. Quebrou-se. Não se sabe ao certo. Sabida é a solidão. Pulsando bem ali no peito dela. E ela, ah, ela não saía mais de dentro de si. Porque não havia mãos para dar-lhe as mãos pro seu caminhar. E o caminho parecia tão árduo...

Lai Paiva

23 de março de 2011

Procura-se

(Renne Magritte)

Um bem que não seja mal
Um querer que não seja o meu
Sentimentos que me acolham
Momentos que sejam brandos
Horas que não sejam dias
Presença que esteja presente
Olhares pros meus sorrisos
Beijos pros meus sonhares
Vida pro meu coração...


Lai Paiva






21 de março de 2011

Dos dias, solidão



(Toulouse Lautrec)


Do abandono, choro poesia

À solidão ofereço versos tristes

Pro meu pesar, sentimentos avessos

No meu silêncio me aprisiono em mim

E em angústias me despedaço

Me vulnerando ao desconsolo...


Lai Paiva

20 de março de 2011

Tempo, tempo, tempo...



(Foto de Ricardo Maciel - http://meuladohumano.blogspot.com/)


Dura o tempo que se quer
O tempo do meu sentir
E pra sempre não vou querer
Que seja sempre o que não é
Aquilo que por tanto quis
Pois que tão pouco me resta
Do tempo que era meu pra sempre...

Lai Paiva

18 de março de 2011

Acontece



(Chagall)

Acontece
Que o esquecimento um dia
Toma pra si as lembranças
E a gente percebe enfim
Quão perdida se torna
A recordação do que se foi...

Lai Paiva

14 de março de 2011

Poeminha revoltoso de amor...



Bem feito o sofrer
Pra quem acredita no amor
Pra quem acredita que amar
Vale, vale sempre a pena
Bem dada a desilusão
Aos que fecham os olhos
Quando ouvem palavras bonitas
Bem justo o pesar
Àqueles que perdem tudo
Por tudo ter apostado no amor
Bem merecido o engano
À quem se deixa enganar
Por uns "eu te amo" incertos
Bem feito seria pro amor
Perder sua crença de vez...


Lai Paiva

13 de março de 2011

Saudade quando não se mata, mata...




(Amanda Cass)

Havia de cortar as asas daquela saudade que sabia tão bem erguer-se alta e independente. Mas ela tinha asas tão fortes. Era uma saudade que lhe doía tanto, que lhe era tão impossível saciar. Matar-lhe-ia ou deixar-se-ia morrer por ela. Pois que mortífera ela se fizera. Sim, aquela saudade maldita, outrora tão doce e afável, mais fere que qualquer objeto contundente que pudesse tomar para podá-la. Ah, e quando se tem asas assim, e quando se tem saudade assim, tende-se a morrer de tanta saudade...

Lai Paiva

12 de março de 2011

Perder-me talvez seja encontrar-me...



(Amanda Cass)


Me perder por aí
Talvez seja a única maneira
De achar
Que ainda há vida
Fora dessa caixa cinza
Onde escondo minhas dores
E meus desamores...

Lai Paiva

4 de março de 2011

...






Que o que ouço são desamores
E desamar talvez seja possível
Mesmo que a melhor intenção
Fosse tão somente amar
Amar tantas vezes
Quantas vezes quisesse
Essa tal improvável esperança


Lai Paiva