21 de outubro de 2016


Eu não invento palavras para escrever. As palavras é que se inventam pra mim. Eu não escrevo o que sinto. As palavras é que são sentimentos descritivos. Eu não conheço uma infinidade de palavras. As palavras é que me conhecem bem. Eu não gosto tanto assim do que escrevo. As palavras é que me adoram. Eu, às vezes, nem sei o que escrever. As palavras é que sempre encontram as minhas expressões. Eu, certamente, não sou uma escritora. As palavras é que são o que sempre pretendi ser. Essas palavras não são simplesmente minhas. Eu é que as sou...


Lai Paiva

23 de junho de 2016


Sobre palavras... Acho que eu sempre soube que elas estariam comigo. Eu as descobri dentro de mim quando estava saindo da infância. Eu me despedi dessa fase, escrevendo. Eu dei boas vindas à adolescência, escrevendo. Eu passei por cada bom ou mau momento, escrevendo. As palavras sempre foram boas comigo, pois me mantiveram viva. Sempre me ensinaram aquilo que faltou quem ensinasse. E eu aprendi. Eu não saberia fazer outra coisa melhor, além de escrever. Não que eu fosse boa nisso, mas isto era muito bom para mim, comigo. A cada nova descoberta, a cada nova conquista, a cada nova desilusão, a cada novo sentimento, elas estavam bem ali, dentro de mim, se organizando para irem para fora. Para cada ausência, mais uma porção de palavras me eram companhia. Para cada paixão correspondida, muitas palavras com coração próprio saiam de dentro de mim. Para cada desamor, as palavras mais tristes e bonitas. Sempre elas; as minhas palavras. As únicas coisas que me pertenciam de verdade, e à quem pertenci sempre. E eu as escrevi para tantas pessoas. Umas, as guardaram, eu sei. Outras, as jogaram como à mim mesma. Como coisas que não servem mais. Como se não soubessem que, para mim, elas serviriam até a última palavra dita ou escrita. Como pedacinhos de mim mesma transformados em sílabas. E, de fato, nunca houve nada que me representasse tão fielmente como as minhas palavras. E nunca fui capaz de ser tão verdadeira, além de quando escrevo. Eu escrevo para conversar comigo mesma. Escrevo para declarar o que sinto àqueles que não me permitem sentir. Escrevo para doer menos, todas as mágoas que fui acumulando ao longo dos anos. Escrevo porque é o que sei oferecer de melhor e mais limpo. Escrevo porque não saberia viver, se não fossem as palavras se moldando no meu estômago. É de lá que elas saem. Não do meu coração. Neste, não cabe mais nada, porque já transbordei. E, sim, vou continuar escrevendo até as palavras envelhecem comigo, e mesmo que ninguém jamais as venha ler. Eu não escrevo para ser lida. Escrevo para me sentir. E para saber quem eu sou. Porque não haveria de ser diferente...

Lai Paiva

7 de junho de 2016

Dia dos Namorados


Para esse dia dos namorados eu não arrumei um namorado. Eu não me arrumei para encontrá-lo. Não arrumei as coisas fora do lugar dentro de mim. Nem me enfeitei por fora para os olhares de quem não tem olhos pra mim. Para esse dia dos namorados eu não programei romantismo algum para impressionar o coração alheio. Porque nenhum coração está batendo por mim, nesse dia dos namorados. Para esse dia dos namorados eu certamente terei preguiça de amanhecer bonita. Nesse dia dos namorados eu não me vestirei de namoradinha de ninguém. Não escreverei cartões amorosos, nem prepararei um jantar para dois. Não reunirei palavras afáveis, nesse dia dos namorados, pois não arrumei um namorado para lê-las. Não prepararei aquela receita sofisticada, pois não arrumei um namorado para sentir a textura dos ingredientes. Nesse dia dos namorados eu dormirei cedo. E não serei a melhor hora de ninguém. Nesse dia dos namorados o dia terá mais horas que de costume, só pra me fazer companhia. Para esse dia dos namorados, eu terei na memória os compromissos de trabalho do dia seguinte. Não, os maiores poemas de amor para recitar ao namorado que não arrumei. Não nesse dia dos namorados, talvez no próximo. Ou no próximo. Ou no próximo. Ou eu arrumo um namorado, ou, quem sabe, um namorado me arrume. E ai, então, o dia dos namorados se encaixe ao lado dos meus outros dias...


Lai Paiva

24 de maio de 2016

Sentir

Sobre sentir, eu sinto muito, mas só sei sentir em demasia. Sinto tudo como se só à   mim coubesse sentir. Sinto tanto, que mal cabe dentro de mim. Às vezes sinto por mim e pelos outros. Sinto-nos, eu e o todo. O sentimento do mundo inteirinho. Do meu universo. Às vezes não sinto nada. O sentir se esvai. E vai pra longe do meu sentimento. 
Sobre sentir, sinto que não devesse senti-lo. Sinto que não poderia vivê-lo. Mas sinto e isso é tudo. Sobre isso, não tenho nada a dizer. E, tudo a sentir. Sobre mim dizem os meus sentimentos. No sentir eu transbordo. Transbordando, espalho os meus sentimentos no mundo dos outros... 
E então, permaneço sentindo. Muito!


Lai Paiva