15 de setembro de 2012

Sem razão





Passa-se por tudo
E nada é pra sempre
Que não possa findar
Daquilo que recomeça
Àquilo que não se termina
Muito se parece tão pouco
E a metade de tudo se esvai
Quando a razão de ser já não é

Lai Paiva

10 de setembro de 2012

Escrevo-me




Escrevo pra sossegar o pensar
E nem tanto ter que ocultar
Escrevo pra descrever o sentir
E pra de certas coisas fugir
Escrevo pra me fazer entender
E pra às vezes me convencer
Escrevo pra sozinha não estar
E pra escrita me acarinhar
Escrevo pra nem tudo dizer
E pra de verdade viver
Escrevo pra me reconhecer
E pra de mim nunca esquecer
Escrevo pra me eternizar
E pra na escrita tudo guardar


Lai Paiva


8 de setembro de 2012

Ainda dura tanto


(Ilustração - Patrícia Metola)


Ainda dele, sem ser
Sentindo tudo, sem poder
Lembrando de coisas, sem querer
Esperando algo, sem crer
Passando o tempo, sem viver
Esquecendo nós dois, sem esquecer
Enganando a saudade tão viva
Pra nem tanto doer...

Lai Paiva





Partícula


Hei de partir
Meu sentimento
Ao meio
Quem sabe assim
O dissolver inteiro
Talvez fugir
Sim, com pressa
Desse nevoeiro
Guardar meu canto
Daquele olhar
Que me apavora tanto

Lai Paiva



6 de setembro de 2012

De tudo, tanto e nada







De tudo fica muito em mim
Daquilo que não tem mais fim
O tanto que encontrei na gente
Buscando viver-nos finalmente
Sou mais lembrança que fato
E o amor deveria me ser grato
Enfeitei o sentir como pude
Mas meu amado foi tão rude
Que nada restou de encanto
Apenas um eterno pranto
A encher meu poema vazio
De um despertar tão tardio
Que o pra sempre nunca o é.



Lai Paiva




Carta de uma manhã sem amor



Amanheci, como de costume, com a lembrança de nós dois me despertando do sono. Um sono já leve, quando não roubado pela falta que você me faz embaixo das cobertas. Senti aquele arrepio que o seu mais suave toque causava, e o calor resultante do encontro dos nossos olhares. Parecia que você estava bem aqui, palpável, carinhoso, presenteável. 
Mas você era agora apenas um devaneio. Ainda maravilhoso.
Procurei o mínimo de certeza da sua presença. Mas a ausência do seu cheiro perfeito denunciava ser em vão a minha busca. 
Ao meu redor tudo estava no seu devido lugar. Dentro de mim, nada tinha seu lugar certo. E em cada parte faltava a sua porção que completava tudo. 
Me alimentei da saudade daquelas tantas horas que nos foram concedidas. Dos beijos com os quais seus lábios me enganaram, das vezes em que a sua pele cobria a minha com aqueles carinhos entorpecentes. 
Foi tão fácil amá-lo. Deixei que você viesse buscar o amor na minha mais reservada intimidade. O amor que nem eu mesma sabia que estava guardado ali. E parece-me que estava esperando que você viesse buscá-lo.
Um calor matinal quase poético vinha se aproximando cada vez mais. Desejei que chovesse. E que a chuva o trouxesse pra mim como tantas vezes o fez. Permaneci deitada, entregue e desarmada. Deixei que a manhã me tomasse nos braços. Meu abraço vazio parecia ter melodia. E eu desejei que você cantasse pra mim. Aquelas canções que foram tão cúmplices da paixão que permeava nossos encontros.
A paixão que eu julguei ser nossa.
Mas não ouvi nada mais além do silêncio de que são feitos os momentos em que me percebo sem você.
Desejei tê-lo comigo ao invés do sol daquela manhã. Porque sem você, já era noite em mim e assim seria sempre.
E te amando eu seguirei por todas as manhãs mal amanhecidas pela falta que me faz encontrar seus falsos encantos meus...


Lai Paiva

5 de setembro de 2012

Um cacto pra mim




Que se vá o sentir
O sentir tanto amor
De um amar tão em vão
Sentimento só dele
Bem plantado em mim
Como o mais belo cacto
De espinhos tão doces
Que machucam beijando
Me deixando as marcas
De um amar insolúvel

Lai Paiva


4 de setembro de 2012

Tão ainda...


Ainda que o ame por dias
Por dias negarei o amor
Ainda que ele seja lembrado
Lembrarei de sabê-lo errante
Ainda que tanto deseje vivê-lo
Viverei como se nunca o tivesse vivido
Ainda que tenha parecido um sonho
Sonharei que ele nunca existiu
Ainda que tudo jamais se acabe
Acabei de recomeçar a esquecer-nos.


Lai Paiva


2 de setembro de 2012

Convicta



(Ilustração João Grando)


De saudade não merecida
Com uma mágoa bem definida
Por lembrança mal vivida
À um sentir tão desprezado
Ao romance pelo avesso virado
No vazio ao meu lado deixado
Vou deixando para trás o futuro
Pois me convenço que
Aquele amor não me é puro


Lai Paiva



1 de setembro de 2012

Tão...



Tão sem tamanho o ser só
Tão sem aroma o estar sem
Tão sem sabor o maltratar
Tão sem sentido o mal causar
Tão sem desculpa o enganar
Tão sem desejo o ainda amar
Tão sem fim o rancor de lembrar...

Lai Paiva