6 de setembro de 2012

Carta de uma manhã sem amor



Amanheci, como de costume, com a lembrança de nós dois me despertando do sono. Um sono já leve, quando não roubado pela falta que você me faz embaixo das cobertas. Senti aquele arrepio que o seu mais suave toque causava, e o calor resultante do encontro dos nossos olhares. Parecia que você estava bem aqui, palpável, carinhoso, presenteável. 
Mas você era agora apenas um devaneio. Ainda maravilhoso.
Procurei o mínimo de certeza da sua presença. Mas a ausência do seu cheiro perfeito denunciava ser em vão a minha busca. 
Ao meu redor tudo estava no seu devido lugar. Dentro de mim, nada tinha seu lugar certo. E em cada parte faltava a sua porção que completava tudo. 
Me alimentei da saudade daquelas tantas horas que nos foram concedidas. Dos beijos com os quais seus lábios me enganaram, das vezes em que a sua pele cobria a minha com aqueles carinhos entorpecentes. 
Foi tão fácil amá-lo. Deixei que você viesse buscar o amor na minha mais reservada intimidade. O amor que nem eu mesma sabia que estava guardado ali. E parece-me que estava esperando que você viesse buscá-lo.
Um calor matinal quase poético vinha se aproximando cada vez mais. Desejei que chovesse. E que a chuva o trouxesse pra mim como tantas vezes o fez. Permaneci deitada, entregue e desarmada. Deixei que a manhã me tomasse nos braços. Meu abraço vazio parecia ter melodia. E eu desejei que você cantasse pra mim. Aquelas canções que foram tão cúmplices da paixão que permeava nossos encontros.
A paixão que eu julguei ser nossa.
Mas não ouvi nada mais além do silêncio de que são feitos os momentos em que me percebo sem você.
Desejei tê-lo comigo ao invés do sol daquela manhã. Porque sem você, já era noite em mim e assim seria sempre.
E te amando eu seguirei por todas as manhãs mal amanhecidas pela falta que me faz encontrar seus falsos encantos meus...


Lai Paiva

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