29 de setembro de 2011

Ser...



(James Jean)


E se assim for
Se for bem assim
Assim sem ser
Sem fazer sentido
Sem estar de fato
Se for pra não ser
Que nem seja
Que nem aconteça
Pois acontece
Que de nada vale
Esperar aquilo
Que não há de ser
E que se espera
Que seja...

Lai Paiva


28 de setembro de 2011

Instantes





Em instantes vou vivendo os dias
A falta que alguns momentos trazem
O excesso que algumas horas ditam
A liberdade de estar só comigo
O receio de me perder de mim
A fuga de alguns quereres
A busca por meus interesses
Em instantes vou vivendo os dias
Sim, e a cada dia mais
Mais quero vivê-los
Ainda que em alguns instantes
Não me sinta neles...




Lai Paiva


23 de setembro de 2011

Apenas eu...








A solidão sempre me amedrontava. O medo de ficar só, sem amigos, sem parentes, sem amores. Sem história, sem momentos relevantes. Acreditava veemente que não iria à lugar algum se sozinha estivesse. Como se alguém precisasse me guiar literalmente. Me sentia de certa forma insuficiente. Me achava sempre metade de alguém ou de alguma coisa. Nunca o todo. Buscava nos outros o reflexo de mim mesma, a inspiração pra dizer algo, pra escrever algo, pra fazer algo. Pior, buscava nos outros a essência de mim mesma. A essência que já devia conhecer como só minha. Sentia sempre infeliz, incompleta, perdida se me faltasse um amigo ou um amor naqueles momentos em que eu mesma tentava sabotar o contentamento em estar só que acomete todo e qualquer ser humano. Assim passei anos da minha vida. Desses 33, ao menos 20. Buscando me encontrar nos outros. Na vida dos outros. Como se no peito de cada pessoa que conhecia batesse o meu próprio coração. Eu sempre me senti só, muitas vezes até enquanto estava inteiramente acompanhada. Eu achava que não me bastava. Eu achava que não me era suficiente. Achava que só existia sob a sombra de outras pessoas. Quanta ingenuidade e covardia de me enxergar como uma pessoa inteira e independente. Foi preciso um caminho tão longo e tão árduo. Foram necessários tantos desencontros pra poder me encontrar. Foi preciso me perder pra saber que não estava sozinha porque eu estava sempre alí, comigo. E me recusava, me afastava. Meu medo de estar só, de ficar só, me fazia a pessoa mais solitária que podia supor. E eu não entendia isso. Precisei perder tudo o que julgava ser tudo pra mim. Pra perceber que eu estou bem aqui. E que eu posso tudo, se em tudo eu acreditar. Eu posso mais, eu posso ser quem eu sou, sem ser movida à inspirações alheias. Se eu quiser ser boa ou má, grande ou pequena, eu serei por vontade própria, sabendo quem estou sendo e porque o serei. E só agora, constatando isso aí, me olhando e me notando, percebo o quanto eu me anulei. Tantos anos se passaram e só agora eu estou me descobrindo. E de fato querendo estar só. Não para sempre, mas pelo tempo que me for suficiente para recuperar o tempo que perdi sem ser eu. Mas o tempo dura exatamente o quanto a gente precisa. Sim, eu preciso estar só. Pra nunca mais achar que estou sozinha. Porque simplesmente eu tenho á mim e eu sou a pessoa que mais me importa agora. Com quem quero e vou manter o meu melhor e maior caso de amor e cumplicidade.

Lai Paiva

22 de setembro de 2011

De repente...



(Audery Kawasaki)


De repente
Bastava ir-me
E levar meu querer
Enfeitar-me de flores
De um perfume só meu
Vestir-me de versos
A soprá-los ao vento
Despir-me em cores
Para aqueles olhares
Pousar esses gestos nus
Em cada segredo vivido
E assim cantar novamente
O prazer em estar lá
Onde deveria ser meu lugar...

Lai Paiva

21 de setembro de 2011

Meus Ganhos






Em tantos momentos
Ganhos inúmeros
Nas graças de Ivanzinho
Na sensibilidade de Bia Saber
Na sabedoria de Tati Ward
Na alegria de Milinha Porto
Na racionalidade de Rezinha
No amor de Chuchu (Júnior Souza)
Na ternura de Leinha (Mone Lira)
No companheirismo de Mama Varejão
Nos conselhos de Sil
Na distância que não separa Dani Aschoff
Nas críticas construtivas de Lu Eduardo
Nas boas conversas de Becca Laura
Na cumplicidade de todos eles
Na amizade de tantos outros
No carinho que sei que é meu
Na verdade que sei que é nossa
Em tudo o mais que me faz melhor
Por eles e pra todos eles


Lai Paiva








20 de setembro de 2011

Quereres...



Asas
Têm esses desejos meus
Voam tão longe, tão longe
Além da razão de ser
Cada desejo que acolho
Aqui em cada linha escrita
Desses meus quereres descritos...

Lai Paiva

19 de setembro de 2011

E então...


E então
Seremos de outros
Faremos com outros
Os planos só nossos
Guardaremos em outros
A paixão que era nossa
Diremos à outros
Os "eu te amo" nossos
Viveremos com outros
Os mesmos momentos nossos
Seguiremos com outros
Aqueles caminhos nossos
E então
Nos devolveremos a paz
Aquela que mandamos pra longe
Enquanto insistíamos em nós...

Lai Paiva

Vou...




(Monet)



Sim, eu vou

Aonde quero ir

Levada nos braços

Por um desejo insano

Hei de ficar pouco

Talvez

Mas o tempo ideal

Pra sentir o que quero

E que faça valer

Cada instante vivido...


Lai Paiva


18 de setembro de 2011

Sou ou fui...



Sou o espaço vazio entre ir e voltar
A incerteza de aonde chegar
A fresta que se abre entre o todo
Metade de algo que foi sem sê-lo
Uma porção em meio ao inteiro
Sou a distância que me une à nada
O silenciar de todos os sons
A dúvida entre o certo e o errado
A possibilidade de acontecer
A inconstância do querer
Sou o que me inspiram a ser
E não há circunstância que possa trazer
Aquilo de mim que enxerguei sem ver...

Lai Paiva

15 de setembro de 2011

Em algum lugar



(Audrey Kawasaki)


Por enquanto
Estou por aqui
Aqui, bem aqui
Onde as canções
Que mais ouço
Me põem perto demais
De onde eu queria estar
Alí aonde não hei de chegar
Se lá não for o meu lugar...

Lai Paiva

14 de setembro de 2011

Madrugada minha



Meus
Tão meus
Os fins de noite
Canções que sopram versos
Versos que beijam minhas mãos
O passar das horas à olhos nus
Os instantes saindo pela janela
A minha presença me consumindo
O sono que não adentra o quarto
Inquietação que me beija a boca
E que me põe tão livre
Pra descrever meu sentir
Um sentir mais que quisera...

Lai Paiva


13 de setembro de 2011

Prometo



Prometo voltar para mim
Pra esses meus braços meus
Olhar em meus olhos
E vê-los sorrir
Fazer-me elogios
Que sejam só meus
Pôr em meus lábios
Palavras mais doces
Nas maças do meu rosto
A cor que perdera
Nos meus versos livres
A leveza de antes
Vestir-me de flores
E de dias inteiros
Momentos meus
E melhores
Que de nada vale o viver
Se não viver para mim...

Lai Paiva


Não ter





(Jasper Johns)



De tudo tenho um pouco
Daquilo que tanto quis
Disto que nunca esperei
Do nada vou tendo tudo
Do tudo vai restando nada
Naquilo que me encontrava
Nisto vou me perdendo
Pro tanto que desejava
Tanto me foi tão pouco
E pouco me serve de nada...


Lai Paiva

12 de setembro de 2011

Assim...



Assim se vão os instantes
As horas que não voltam
Os momentos oportunos
Aquilo que não se vive
O que se deixa de sentir
O que não há de voltar
Pois que tudo isso será
Apenas um breve lembrar
Que vem e que passa
Tão somente e tão breve
Pra saber que se foi
E que não mais será...

Lai Paiva


11 de setembro de 2011

Sem sentido


(Gary-Fernández)

Por falar em sentido
Ando mesmo sentindo
A ausência de tê-lo
Ando a passos opostos
Ao sentido daquilo
Que se há de explicar
Aquilo que bem sei
Que nada será
E por falar em saber
Quisera dizer
Que de algo eu sei
Que me faça sentido...

Lai Paiva

10 de setembro de 2011

Fato



Amar demais é bom pra desencorajar a amar de novo...

Lai Paiva

A moça da tarja preta

Era tarde. A noite havia pousado na janela daquela moça. O relógio apontava a hora em que o jantar lhe aguardava, não ela a ele. Duas fatias de queijo branco. Duas torradas. Uma xícara de café com leite.

E um copo d’água.

Buscava aquela cápsula como quem busca uma barra de chocolate na geladeira, em plena madrugada.

Na cápsula, prazer e leveza. Esquecimento.

Constance tinha anseios e angústias a esquecer. Tremores a conter, dores a cessar. Mais que isso, tinha noites a dormir e manhãs pra acordar.

E as cápsulas lhe traziam tanto naquela caixa de tarja preta...

Tomava uma por noite. E em vinte minutos, a ação, a sedação. As substâncias mágicas lhe percorrendo os caminhos secretos, lhe dilatando as pupilas, lhe acalmando a alma agitada, o corpo excitado pelas horas que o dia trouxera.

Às vezes, em segredo, desejava ingerir mais de uma. Mais de duas, talvez. Não na intenção de fechar os seus olhos pra sempre, mas pra prolongar a distância que a separava das suas dores.

Ela sentia-se nua, livre, ausente. E lhe era tão bom sair um pouco de si. De dentro de si, onde tantas vezes não desejava estar.

Sim, Constance sentia-se invencível e covarde. As cápsulas lhe davam uma segurança que não era sua. E que só a sentia ao ingeri-las. Covarde por já desejar mais e mais caixas além daquelas que já estavam guardadas no armário, à espera dela.

Nutria apreço por aquelas caixas. Relacionava-se com elas intimamente. Tocava-lhes como quem toca seu próprio órgão sexual. Com leveza, exatidão e desejo.

Ingeria não só as cápsulas, mas a paz interior momentânea que elas traziam em sua composição. E Constance sentia que isso por si lhe bastava pra vencer a si mesma e suas crises de racionalidade. Quando olhava pra si e se percebia tão entregue àquilo que menos queria pros seus momentos. Não chorava. Não gritava nem gemia timidamente, como fazem os fracos.

Simplesmente ingeria aquele alívio comprado sob olhares abismados. Sim, há quem se impressione ao vender algo assim para uma moça tão jovem, bonita, elegante. Uma moça que mal devia saber a dor que a ausência da paz provoca. Uma moça que só deveria ter motivos pra sorrir, afinal, era tão jovem e de sorriso tão franco. Doce ilusão...

Aquela moça, aquela ali exatamente, mal cabia naquelas caixas tamanha era a insignificância que sentia e para a qual buscava alívio...


Lai Paiva

8 de setembro de 2011

Palavras, somente palavras.



Palavras,
Tantas e tamanhas
Sem querer, sem dizer
Pra escrever, pra rever
Que voam, que pousam
Que vão e que voltam
Do bem, do mal
De dentro de si
Pra fora de nós
Corretas, exatas
Meias, insanas
Doces, cortantes
Pedaços de quem
De quem as disser
Vestidos de letras
Pras almas falantes...

Lai Paiva

Sim, eu...



(Audrey Kawasaki)



Dos meus desejos, fantasia

Das minhas fantasias, devaneios

Dos meus devaneios, nudez

Da minha nudez, prazer

Do meu prazer, querer

Do meu querer, mais desejo

De tanto desejo, sou feita

Sendo feita assim, sou mais eu...


Lai Paiva

5 de setembro de 2011

Isso, aquilo

(Gary-Fernández)


Trilhas pro bem sonhar
Caminhos pro despertar
Sinais pra ultrapassar
Luzes pra acender
Letras pro descrever
Flores pra amanhecer
Cores pra desenhar
Perfume pra demarcar
Vestido pra esconder
Olhares pra emudecer
Sabores pra amaciar
Música pra declarar
Sentir pra vivenciar
Vida pra cá, pra lá
Pra ser, pra estar...

Lai Paiva

4 de setembro de 2011

Metade do mundo...



(Gabriel Moreno)

Metade dia
A outra, noite
Metade ri
A outra, cala
Metade canta
A outra, escreve
Metade diz
A outra, sente
Metade mostra
A outra, dorme
Metade cresce
A outra, foge
Metade pinta
A outra, planta
Metade anda
A outra, dança
Metade é toda
A outra, nada
Metade do mundo é assim
A outra, não deixa de ser...

Lai Paiva

1 de setembro de 2011

De mim...


(Gabriel Moreno)



Trinta e poucos anos
Tantos e muitos sonhos
Mais e mais devaneios
Outros e inúmeros planos
Delírios de perder a conta
Sentir de não se medir
Palavras pra não se calar
Anseios de ouvir a voz
Um nome pra se guardar
Nos lábios onde pousar...

Lai Paiva