28 de julho de 2009

TPM...



Há dias que eu amo o outro, os outros. Há dias que o amor se esvai. Há dias que canto a alegria, em outros, sua ausência me emudece. Há dias que me acho bonita, nuns outros a mesma beleza se oculta. Há dias que a inspiração me toma pra si. Há dias que nada me inspira. Há dias que tenho sonhos fantásticos. Há dias que são pesadelos. Há dias que são um misto de cores, outros, desprovidos das mesmas. Há dias que tenho apetite voraz. Há dias que o doce é azedo, o salgado sem gosto. Há dias que escrevo a ternura, em outros descrevo a angústia. Há dias em que quero presenças, pessoas, vozes, olhares. Há dias que sou solidão. Há dias que sou normal, assim, instável, como os outros, todos os outros, e há dias em que eu surto. Mas só por um dia, ou outro. Nada mais... E que não me estranhem por isso. E que se reconheçam em mim!
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Lai Paiva

Desencontro

Quebrada e interrompida
Imersa numa tristeza ruidosa
Rompi com meu sorriso
E a leveza de outrora
O outro me inunda de ausência
Me abre frestas, me abandona a alma
As flores não moram mais em mim
Colheram as minhas tulipas,
Os meus girassóis, os crisântemos
A minha tristeza gritante
De sons confusos, perturbados
Que me mandam calar os lábios
Solitários, secos e frios
O outro me parece lembrança
De ontem, de antes
E figura o vazio, a indiferença
Que me invadem agora...
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Lai Paiva
(Amantes - René Magritte)

Esqueço
Mas recomeço a querer-te
Desisto
Mas não resisto a buscar-te
Calo
Mas minhas palavras te escrevem
Esquivo
Mas meus olhos te encontram
Contenho
Mas meus abraços são teus
Minto
Mas tudo em mim denuncia
O que tua presença provoca
Ainda que não estejas presente...
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Lai Paiva

24 de julho de 2009

Noite...

Através da minha janela, a noite. Calma, insípida, incolor. Derramou em algum lugar as estrelas, de modo a mostrar-se comum. Choro a ausência das mesmas. Lágrima a lágrima na esperança de vê-las, até que a última se esvai. E a noite parece mais longa que o tempo que lhe é destinado. Arrastam-se as horas por entre minha espera. Nada, ninguém, nem som, nem a ilusão de algo. E ainda admiro o escuro lá fora, querendo desfrutá-lo, prová-lo. Ah, a noite. Tanto se pode viver à noite. E eu aqui atrás da janela, presa nas minhas próprias amarras. Derretida em lágrimas por causa da ausência das estrelas, que a noite roubou de mim, me deixando escura tal qual o é.
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Lai Paiva

22 de julho de 2009

Vontade

Há dias, meses, anos, uma vida inteira, me consome avidamente uma vontade intensa de certas coisas que me faltam linhas pra enumerar fielmente. Vontade de nascer de novo, de me banhar de instantes, de beber e comer as oportunidades. E isto não é meramente um descontentamento, mas um saudosismo do que não houve. Um saudosismo de arrepiar de vontade, de dilatar as pupilas e descompensar o coração. E me põe delirante, desejando, enlouquecendo de querer. Mais instantes que meus batimentos cardíacos possam supor, mais pessoas que eu possa unir a mim mesma, mais tudo, um pouco mais do tudo que me é dia-a-dia presenteado. Quero mais, mas vocês que me leem, mais aqueles que me deixam de ler, mais viver!
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Lai Paiva

20 de julho de 2009

Amigos...

São como fragmentos diversos da minha euforia, da minha energia, da minha grandiosidade. Compõem o ar que adentra meus pulmões, a luz que faz amanhecer os meus dias, as flores que engradecem minha alma, o sabor que meus instantes experimentam. São rubis, esmeraldas, ouro, prata, diamantes. São melodias que embalam os meus sorrisos, palavras que descrevem meus sentimentos. São o pulsar e o contentamento, a harmonia e a plenitude, são meus presentes de todas as datas comemorativas. O porto onde encontro a paz, a delicadeza e a ternura, depois da agitação e da boemia maravilhosas. São os ouvidos que ouvem meus segredos e declarações. São as vozes que me aconselham, me elogiam, me falam verdades. São as emoções que leem em meus olhos. São meu amor verdadeiro materializado, humanizado. São assim, meus amigos, cada um, todos. De antes, de hoje, de sempre. Mais que nomes, mais que pessoas, mais que amigos, pedaços de mim soltos por aí, me fazendo presente em tantos lugares nada comuns. Beijo a todos hoje, em especial. Dia do amigo.
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Lai Paiva

17 de julho de 2009

...

(O beijo - Gustav Klimt)

"Como termina um amor? - O quê? Termina? Em suma ninguém - exceto os outros - nunca sabe disso; uma espécie de inocência mascara o fim dessa coisa concebida, afirmada, vivida como se fosse eterna. O que quer que se torne objeto amado, quer ele desapareça ou passe à região da amizade, de qualquer maneira, eu não o vejo nem mesmo se dissipar: o amor que termina se afasta para um outro mundo como uma nave espacial que deixa de piscar: o ser amado ressoava como um clamor, de repente ei-lo sem brilho (o outro nunca desaparece quando e como se esperava). Esse fenômeno resulta de uma imposição do discurso amoroso: eu mesmo (sujeito enamorado) não posso construir até o fim de minha história de amor: sou o poeta (o recitante apenas do começo); o final dessa história, assim como a minha própria morte, pertence aos outros; eles que escrevam romance, narrativa exterior, mítica."
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BARTHES, Roland. Fragmentos de um discurso amoroso
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E o que não termina? As horas, os dias, os instantes, os sentimentos, a vida. Tudo se esvai. Tudo escorre a cada suspiro ou piscar de olhos. Bem como se esvai a lembrança do que se foi. Nada permanece imune ao término, ao sempre. Bem certo é esta sensação exata da efemeridade do tudo e de todos que percorrem nossas palpitações. O amor, mesmo ele, que cantam e escrevem eterno e interminável, mesmo ele, impregnado no lugar mais íntimo de mim, há de chegar ao seu fim, ou meramente, passar para um outro plano, uma outra atmosfera. Tornar-se tão somente fragmento disto, daquilo, de mim, dele. Porque afora das músicas e poesias, afora da fantasia que me confude a razão, me põe insana de alegrias tolas, porém doces de experimentar, há a vida, que pede ser vivida até o último sibilar dos meus lábios, até findar-se, como tudo, como sempre!
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Lai Paiva

16 de julho de 2009

Recomeçar...

"... é que o amor é essencialmente perecível, e na hora em que nasce começa a morrer. Só os começos são bons. Há então um delírio, um entusiasmo, um bocadinho do céu. Mas depois... Seria, pois, necessário estar sempre a começar, para poder sempre sentir?

QUEIROZ, Eça de. O Primo Basílio (p. 157)

Recomeçar... Morrer e nascer de novo tantas vezes quanto forem necessárias. Reviver, voltar a sentir, redescobrir, fazer uma releitura das horas, dos instantes, dos dias. Recomeçar a querer, a desejar, a atrair. Apaixonar-se de novo, pelo novo, pelo começo. Enamorar-se pelos começos, pelo cheiro que só os começos têm, pela cor que só os começos retratam, pelo sabor que só os começos concebem. Reencontrar o motivo que os começos trazem consigo, as nobres causas, os incorrigíveis impulsos. Lançar-se ao recomeço. Nascer com ele. Vivê-lo tão somente. Porque os recomeços trazem implícitos aquele calor que medida alguma consegue apontar!

Lai Paiva

14 de julho de 2009

Palavras...

















Escrever... Relacionar-me com as palavras. Conhecê-las, encontrá-las, conquistá-las, relacionar-me intimamente com elas. Despir-me, entregar-me. Usá-las e deixar que me usem, que me explorem, que me tomem pra si, assim como eu a elas. Namorá-las. Eu e as palavras, unidas na relação mais estreita que se possa supor. Leais, exclusivistas, apaixonadas. Uma transparência tão expressiva, onde possam me ler inteira através das minhas palavras. Minhas, só minhas, numa relação de ternura e posse, de leveza e intensidade, de extase e amizade. Me entrego às minhas palavras sem contenção, sem medida. Nua, limpa, fiel. Fiel aos seus sinônimos, antônimos, pronomes, sujeitos, objetos, predicados, orações, concordâncias. Me decomponho nas minhas palavras. Por elas, apenas por elas, eu solto as amarras e abro as janelas. E me deixo levar na escrita, linha a linha, frase a frase. Minhas palavras a mim mesma, a eles, a elas, a todos. A quem eu escreva, sempre estou indo implícita, sempre hão de me ler. E me ter sem segredo!


Lai Paiva

Um Poema Triste

Quis escrever um poema
E fiz das minhas lágrimas, palavras
Molhei o papel de tristeza
E de suas linhas tão certas
Fiz riscos perdidos e úmidos
Numa brancura tão opaca
Quanto meus olhos tristonhos
Quis escrever um poema
Mas chorei muitas palavras
Para poucas linhas
Linhas incertas
De um papel impróprio
Para um poema triste...

Lai Paiva

13 de julho de 2009

Eu

(Esferas - Salvador Dali)

cacto, tulipa, girassol
cheiro, música, poesia
mar, concha, sol
paixão, arrepio, declaração
amor, tesão, liberdade
cinza, preto, prata
rubi, fenda, assimetria
olhos, boca, pêlos
abraço, sabor, transparência
intimidade, namoro, amizade
vinícius (de moraes), clarice (lispector)
cecília (meireles), pablo (neruda)
roberto(carlos), lenine
ana (carolina), maysa
salvador(dalí), rené(magritte)
vinho, azeite, curry
vodka, frutos do mar
beijo, beijo, beijo
companhia, som, emoção
palavras, silêncio, comoção
sorriso, força, foto
calor, chocolate, pinha
lembrança, inspiração, beleza
sonho, sono, agrado
carta, e-mail, mensagem
pessoas, contato, saudade
uva, suco, doritos
sopa, chuva, cama
meia, cobertor, TV
filme, pipoca, água
cinema, comentário, escuro
vida, horas, felicidade
recomeço, descoberta, marcas
ida, volta, caminhos
outros, aqueles, estes
eu...

Lai Paiva

12 de julho de 2009

"Foi apenas um sonho"

Um filme visto e uma instigação pra pensar certas coisas... Coisas que a gente não atenta pra pensar com a mesma frequencia com que se vive os dias. O que temos feito a nós mesmo, como temos feito, como temos vivido, sonhado, nos lançado aos dias que nos são concebidos? Como temos sonhado, e que sonhos, os sonhos que queremos de fato, independente da possibildade dos mesmos? Como temos amado, os instantes, as causas, as consequências, os ganhos, as perdas, o crescimento, as pessoas, como temos amado a nós mesmo? Muito, pouco, explícita ou implicitamente. Vale mesmo a pena querer parar o tempo, ou parar no tempo, como às vezes queremos, mesmo que em silêncio? Vale mesmo a pena se conformar com o que temos até hoje, nos dias de hoje, sem buscar mais? Vale mesmo a pena não nos confrontar com o que há fora de nós? E com o que há dentro também? Porque, ao meu ver, é confrontando a vida que a gente vive mais. Que a gente ganha mais. Cresce, amadurece, enriquece. Pra que quando a vida acabe a gente possa dizer dos dias que teve, da vida que teve, das conquistas que teve, dos amores que teve, e sentir que verdadeiramente valeu a pena passar por tudo, mesmo quando tudo pareceu doer tanto, mesmo quando tudo pareceu não ter a mesma cor, o mesmo cheiro, o mesmo sabor pra gente, ainda assim vai valer a pena e vai nos fazer se sentir amantes de nós mesmos. Eu quero viver assim, experimentando a vida, degustando, descobrindo tudo, não me sentir vencida pelo contentamento. Buscar sempre mais. Porque eu quero me sentir maior do que possa supor. E sei que posso sempre mais!!!

Tumulto


"Tempestade... O desgrenhamento
das ramagens... O choro vão
da água triste, do longo vento,
vem morrer-me no coração.

A água triste cai como um sonho,
sonho velho que se esqueceu...
(Quando virás, ó meu tristonho
Poeta, ó doce troveiro meu!...)

E minha alma, sem luz nem tenda,
passa errante, na noite má,
à procura de quem me entenda
e de quem me consolará..."
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Cecília Meireles