26 de julho de 2013

À Espera


Saudade da saudade dele
Vontade da ansiedade nossa
Ávida por meus beijos nele
Desejosa do que somos juntos
Apaixonada pela paixão minha
Esperando que ele volte meu
Dos quilômetros que não quero nossos...


Lai Paiva

21 de julho de 2013

Ele e Ela


Eles foram ao mesmo evento naquele dia
Ela o olhou com aprovação
Ele elogiou a beleza da amiga
Eles não esticaram a noite na creperia 
Ele pegou o número do telefone dela
Ela não disse coisa com coisa ao ouvi-lo
Eles desligaram achando que não mais ligariam
Ele recebeu uma mensagem dela com surpresa
Ela queria causar boa impressão
Eles começaram a trocar mensagens
Ele a enchia de uma ansiedade gostosa
Ela o fazia amanhecer mais alegre
Eles estavam se conquistando aos pouquinhos
Ele lhe mandava canções de "presente"
Ela lhe escrevia poemas singelos
Eles já estavam enamorados
Ele a enviou as mais belas flores
Ela mandou-lhe cartões com fotos dela
Eles eram um presente um pro outro
Ele foi ao Shopping sem sabê-la lá
Ela propôs encontrá-la na loja em que estava
Eles tiveram o primeiro encontro na loja de bichos de pelúcia
Ele anoitecia pensando nela
Ela amanhecia sonhando com ele
Eles passavam as horas acarinhando um ao outro
Ele não suportava mais o desejo em beijá-la
Ela sucumbiu ao seu pedido de vê-la
Eles se beijaram no primeiro semáforo fechado
Ele estava lindo naquela euforia invencível
Ela já estava apaixonada pelos seus olhos raros
Eles se amaram como se fossem morrer de amor
Ele não conseguia deixá-la de volta em casa
Ela não queria mais perdê-lo de vista
Eles foram perfeitos naquela noite
Ele a deixava cada vez mais encantada
Ela vivia deixando-o saudoso dela
Eles logo se disseram "eu te amo"
Ele foi por muitos meses seu par ideal
Ela o fez ter dias melhores
Eles pareciam maiores que o tempo
Ele aos poucos foi causando tristeza
Ela muitas vezes teve que maltratá-lo
Eles estavam perdendo a harmonia
Ele mentia como quem conta verdades
Ela demorou a acreditar nas evidências
Eles minaram o respeito um do outro
Ele cometeu os piores erros
Ela o perdoou por amor em demasia
Eles resolveram tentar ficar juntos
Ele nunca mais foi aquele de antes
Ela já não se sentia a mesma
Eles estavam se distanciando sem ver
Ele traiu seu amor e lealdade
Ela o tratou da forma mais contundente
Eles sentiram que tudo estava perdido
Ele insistia em dar-lhes outra chance
Ela acatou seu pedido por vezes
Eles não sabiam mais ser como eram
Ele a fazia voltar ao beijá-la
Ela o fazia feliz em silêncio
Eles queriam ter sido perfeitos
Ele era o céu e o inferno dela
Ela era a flor e o espinho dele
Eles já não se reconheciam
Ele a estava frustrando demais
Ela o estava descontentando também
Eles não eram mais a paixão de outrora
Ele não enxergava suas falhas
Ela não as deixava de apontar
Eles estavam chegando à exaustão
Ele acostumou-se demais a tê-la sua
Ela o amava demais pra virar-lhe as costas
Eles iriam até onde o sentir os levariam
Mas
Eles sabiam que não iriam tão longe...


Lai Paiva




14 de julho de 2013

Ele



Em tudo deveria ter um pouco de você
Todas as cores deveriam ser da cor dos seus olhos
Todo perfume deveria ter o cheiro do seu pescoço
Todo sabor deveria ser igual ao seu beijo
Todos os nomes deveriam começar com a letra do seu
Todas as músicas deveriam ter a melodia da sua fala
Toda poesia deveria ter aqueles versinhos que você diz sem poetizar
Toda vez que chovesse deveriam chover seus carinhos
Toda nova manhã deveria ter o seu rosto lindo no lugar do sol
Toda janela deveria ter a sua imagem através dela
Toda roupa que me veste deveria ser como seu abraço
Toda coberta deveria ter a textura da sua pele
Todo banho deveria ser quentinho como você
Toda barra de chocolate deveria vim com uma mordida sua
Todo inverno deveria vim acompanhado da sua presença
Todo sentimento deveria ter o seu sentido
Toda alegria deveria ter o seu sorriso
Todo afago deveria ser feito com as suas mãos
Todo coração deveria ter a forma dos seus lábios
Toda emoção deveria vim com seus arrepios
Toda xícara de café deveria ter você como adoçante
Todo filme deveria ser sobre o jeito único de ser você
Toda saudade deveria ser pra morrer em seus braços
Todo cuidado deveria ter a sua proteção
Todas as flores deveriam ser as begônias que você me deu
Todo o mundo deveria ser só você
Em tudo deveria mesmo era ter você inteiro...



Lai Paiva





3 de julho de 2013

Ainda Não



Eu ainda te desejo
Mas eu não te quero mais
Eu ainda te acho lindo
Mas eu não te admiro mais
Eu ainda sinto teu cheiro
Mas eu não te sinto mais
Eu ainda sonho com você
Mas eu não te idealizo mais
Eu ainda te beijo sozinha
Mas eu não te aprecio mais
Eu ainda te escrevo poemas
Mas eu não te destino mais
Eu ainda ouço canções por você
Mas eu não te escuto mais
Eu ainda me lembro de você
Mas eu não te eternizo mais
Eu ainda te vejo por vezes
Mas eu não te enxergo mais
Eu ainda te amo o bastante
Mas eu não te gosto mais


Lai Paiva

(en)fim



(Ilustração de Nicoletta Ceccoli)



Eu te amei sem perceber
Quando tudo entre nós
Já era amor
Eu te falei verdades doces
Que a ninguém mais revelei
Eu desejei dias sem fim
Pra renascer ao seu lado
Eu te guardei nos meus poemas
Pra te fazer eterno pra mim
Eu me entreguei sem receio algum
E só te queria assim
Eu me magoei sem sarar
E menti que não mais te queria
Mesmo sentindo teu beijo
Eu não posso mais ser-te
Ainda que haja o amor
Eu me sinto infeliz
Com o que você quer me dar
Eu não quero mais
Aquilo que você mente ter
Eu enfim aprendi chorando
Que me amar é mais que isso
E se não foi você a fazê-lo
Serei eu a amar-me sozinha


Lai Paiva


2 de julho de 2013

Sobre Cactos e o Amor



Todo o mundo gosta de alguma coisa. Todo o mundo gosta muito de alguma coisa. Todo o mundo é enamorado em demasia por algo. Eu sou por cactos. De todo tipo: palma, mandacaru, cabeça de frade, etc. Eu os acho fortes, imponentes, e, mesmo parecendo contraditório, apesar dos espinhos, eles conotam pra mim uma beleza tão singela, tão tocante, que me faz passar muitos instantes a admirá-los. Esqueço de contar o tempo quando estou frente a um. Parece que o tempo não passa pra que eu não deixe de contemplá-los. Seja de que tipo ou tamanho for. E, claro, eu tenho os meus próprios cactos na minha casa. Estão comigo há anos, sob os meus cuidados e admiração. Gosto de ser surpreendida ao verificar se está tudo bem e me deparar com seus novos espinhos nascendo. Pra mim é como ver algo se renovando. Aqueles espinhos são o resultado do meu apreço, da minha proteção, do meu cultivo. Isso me felicita tanto quanto qualquer outro momento de contentamento maior. O amor é bem assim. Com espinhos e tamanha beleza. E, assim como os cactos, o amor também precisa de terreno fértil e de cuidados especiais, mas nada muito complexo. Por exemplo, no que concerne aos cactos, é preciso atentar para o tamanho dos vasos. Se for muito pequeno pode acarretar a asfixia das raízes, fazendo com que cresçam pouco ou nada, levando-os à morte. Se for muito grande, consequentemente levará muita terra, o que aumentará a absorção da água, fazendo com que as raízes apodreçam. O amor também precisa de atenção. Amar não basta. É preciso cuidar do amor. É preciso uma dose diária de estímulo, de incentivo, de enaltecimento, de atenção. Dispersar-se do amor, é matá-lo. E é tão simples cuidar. O cuidado está nos pormenores. Ambos, amor e cactos, nascem, crescem, morrem. Mas, enquanto vivos, têm o mesmo dom de fascinar, de nos pôr em completo estado de torpor, de encantamento. Se a gente chegar muito perto do amor, sem a cautela de saber como tocar, a gente se machuca, assim como acontece com os cactos. E é possível, sim,  tocar o amor, porque o amor tem a forma que a gente dá pra ele, tem o nome que a gente dá pra ele. O nome próprio, a forma inteira, ou a metade. Os cactos também têm diferentes formas. À nossa escolha, embora a minha preferência seja por cactos, independente da forma. O amor tem contornos, tem voz, embora não seja exatamente audível. Só aqueles sujeitos amorosos podem ouvi-lo, visualizá-lo. Os cactos também só são vistos dentro da sua grandiosidade de ser por quem tem olhos para tal. A forma de olhar é que mostra ou oculta algo. Eu quero poder olhar pro amor como olho pros meus cactos todas as manhãs. Enxergando seus detalhes pra saber como me aproximar. Eu quero mais que isso. Quero me aproximar sem me machucar, nem com o amor, nem com os cactos, pra poder ajudá-los a crescer, a dar continuidade aos seus ciclos. Quero os meus cactos comigo em dias de sol e de chuva. Eu os colocarei no melhor lugar, seja pra tomar sol, seja pra se esquivar da chuva. E nos vasos mais apropriados. Quero o amor pra cuidar igualmente. Guardando no melhor lugar. Ao lado dos meus cactos, ou ao lado da minha presença pra ir comigo aonde quer que eu vá. Quero ambos na minha janela. E poder me sentir bonita como eles. Talvez com alguns espinhos, mas com um amor enorme pra amar. Basta que me saibam cuidar. Eu só desejo que haja mais tesouros assim, como cactos e amor, e pessoas que possam tê-los em casa e na alma, cuidando pra não interromper nenhuma etapa, nem matá-los. Eu desejo menos espinhos contundentes, mais amor irretocável. E isso só depende de quem está cuidando. Porque o amor, assim como os cactos, são pra gente aquilo que a gente os permite ser. E farão conosco, seja na janela ou na alma, o que estivermos abertos a deixar que façam. A beleza está bem onde eles estão. Bem à frente dos meus olhos, e porque não de outros? E eles são lindos, mesmo quando, eventualmente, nos machucam. Por isso estarei sempre de olhos bem abertos. E com a janela e a alma enfeitadas. Sempre!



Lai Paiva