29 de junho de 2011

Meus...




Momentos meus
Os de dias atrás
Os de hoje e os de sempre
E só eu hei de sabê-los
Bem como serão para mim
Só eu hei de vivê-los
Ainda que em devaneios
Como queria que fossem...


Lai Paiva




27 de junho de 2011

Pq nem todo amigo é a-m-i-g-o...


Vale ser humana
Se o humano é o ser
Que conota a descrença
Que permeia o desanimo
Pintada por trás do meu riso
Riso sem graça de uma graça perdida
Pra alguns que guardei com um afeto em vão?

Lai Paiva

26 de junho de 2011

Vejo-me...




(René Magritte - A Página em Branco)

Olhei bem pra mim
Naquele lago espelhado
E brilharam anseios
Nesses olhos tão meus
E receios pintaram
As maçãs do meu rosto
Devaneios molharam
Meus lábios unidos
E então sentindo que ia
Diluir-me alí, bem alí
Voltei meu olhar para trás
De modo a esconder-me de mim...

Lai Paiva



24 de junho de 2011

Silêncio



(Amanda Cass)


Escrevi uns versos meus
E os guardei só pra mim
Umas tantas palavras minhas
Com afeto e querer demais
Aquilo que não ousei dizer
Assim como quem diz olá
Pois que calar, umas vezes
Fala tanto por mim que nem sei...

Lai Paiva


23 de junho de 2011

Há de ser...




(Chagall)



Há de haver outro dia
De momentos meus
Pro meu contentar
Com o sabor de outrora
Que me desenhou o riso
O meu riso meu...

Lai Paiva

20 de junho de 2011

Eles e nada mais


Anoitecera sem que percebessem. Não se viam estrelas nem lua acima daquele momento. Apenas eles. Luiza e Antônio. Eles e os seus sentimentos afins. E aquele instante que deveria ser o último.

Aquele instante com sabor de café com leite.

Beijaram-se como de costume. Aquele costume dos seus lábios. Aqueles lábios que se misturavam tão uniformemente. Aqueles lábios que mal cabiam no beijo um do outro.

Acarinharam-se como sabiam tão bem fazer. As mãos de Antônio levaram Luiza tão dentro de si. Ela se aninhava dentro dele e guardava-se bem ali. Na intenção de não mais sair de lá. Da sua recordação mais terna.

As mãos de Luiza, por sua vez, acompanharam os contornos do rosto de Antônio como se estivessem a desenhá-lo. Sem esquecer um detalhe sequer daqueles traços marcantes que via e que a deixara encantada desde a primeira vez em que pousou nele o seu olhar.

Havia paixão materializada neles. Nos dois. Uma porção em cada um. E quando uniam suas porções, não havia medida na paixão. Nem palavras que falassem por ela, nem músicas que a embalassem, nem cheiro que a externasse.

A paixão era tão somente deles. Eles eram a sua morada.

As horas insistiam em passar. A despedida se fazia notória. As cores começavam a sumir. E um silêncio tomava conta do pequeno espaço que os separava.

Os olhares se ausentaram. Os lábios secaram. Os braços afundaram-se naquele abraço que, sabiam, seria o último.

Não sabiam o que dizer um ao outro. Talvez fosse melhor silenciar. Às vezes as palavras dizem menos que os olhares. Às vezes unir os lábios diz mais que qualquer olhar. E basta.

Sentindo o momento da partida, ela quis abreviá-lo, mas ele pegou sua mão com tamanha certeza de que ainda a queria com ele e não a deixou ir. Ao menos não naquele exato momento. Ainda queria beijar as maças do seu rosto, o pescoço delicado, as pontinhas da orelha, a boca rosada.

Mas já era tão tarde. A noite já se esvaia. Assim como as esperanças de ainda serem um do outro.

De súbito, sentindo que não mais poderiam permanecer nos abraços um do outro, disseram em silêncio que sentiriam saudades.

Saudades de quando podiam matar as saudades sem que morressem de tanto querer... Como seria de agora em diante...


Lai Paiva


19 de junho de 2011

Lai por Lai
















(Antonio Frilli: Nude Reclining in a Hammock - "Sweet Dreams" 19th - carrara marble, 111.8 - 193 - 61 cm. Recife, Instituto Ricardo Brennand.)


Ser quem eu era
Quem sempre fui
Quem sei bem ser
É de um sabor
Sem que haja igual
Um risco e um prazer
Um riso e um abismo
Entre mim e os outros
Mas quem disse que quero
Estar sempre perto de alguém?


Lai Paiva

17 de junho de 2011

Meu abraço...






É preciso abrir os braços
Pra um último abraço
De um afeto recente
Disfarçado de antigo
E antecipar uma saudade
Que é bem certo chegar
Quando não estivermos aqui...

Lai Paiva

É isso...





(Frida Kahlo)


Ame-me
Ou odeie-me
Pelo que sou
Não fingirei não sê-lo
Tampouco deixarei de ser
Doce ou amarga
Sã ou insana
Explícita ou reclusa
Eu sou bem assim
E não me importa
Ser bem aceita
Mas ser sempre eu...


Lai Paiva





15 de junho de 2011

Flores pra vc...





(Van Gogh)


Dar-te-ei flores do meu jardim
Estas não murcham, nem secam
As flores mais perfumadas
De um cheiro de bem querer
Arrume um vaso grande
Enfeite-o de intenções
E guarde as flores minhas
Que hão de enfeitar a janela
Por onde trocamos olhares...

Lai Paiva

14 de junho de 2011

Olhares...


Olhou aquela moça com aqueles olhos silenciosos que tão bem querer expressava. Fitou-a como se estivesse a fazê-lo pela última vez. Mediu cada cantinho dela na intenção de jamais guardá-la no esquecimento. A queria alí, sob seus olhos, sob a proteção do seu olhar. A lua brilhava alta. O mar compartilhava quieto daquele instante só deles. Um cheiro bom de maresia e perfume banhava aquele momento. Sim, havia um cheiro peculiar bem alí, sob eles. A moça estava encantada. O moço, igualmente. E não havia ninguém mais a notá-los. Apenas a lua a testemunhar aquilo que não se sabia ao certo o nome, nem ao certo a medida, mas que era o que havia de mais afável a contentá-los. De modo que eternizariam aquela noite por várias e várias noites... Ainda que jamais voltassem a sentir um ao outro assim...


Lai Paiva

10 de junho de 2011

Acaso...



(Amanda Cass)



Se por acaso
O acaso passar
Num instante
Assim, sem nada dizer
Sem olhar para trás
Ficarei na saudade
De tê-lo somente vivido
Enquanto me foi permitido...

Lai Paiva





7 de junho de 2011

...






O que se vai de mim
Deixa isto que sobra
Aquilo que não se vê
Algo que tece quem sou
Que emoldura minh'alma
E me faz ser assim
Tão esta aqui, bem aqui
Assim pra ser vista
E ser mais bem quista
Que até onde fui...

Lai Paiva

6 de junho de 2011

Borboletas no meu jardim



(Matheus Lopes Castro)

Voam borboletas
Tantas e tão leves
Voam aqui no meu jardim
Pousem aqui dentro de mim
Que espero tuas asas
Pra também voar assim...

Lai Paiva




5 de junho de 2011

Tempo...



(Amanda Cass)


Tempo, tempo, tempo
Seja assim meu bem
Beija-me e me põe a seguir
Me acolhe nesses seus braços seus
E me inunda de esperanças sutis
Acerca das horas que trazes pra mim
Que é tão seu o meu despertar...

Lai Paiva

2 de junho de 2011

Moça na janela...







(Salvador Dali)







Havia uma moça naquela janela. Uma moça com nome de flôr. Tulipa, era a sua graça. Curtos eram seus cabelos à mostra. Rosadas eram as maçãs de seu rosto. Escuros e cintilantes eram seus olhos. Esperançosa era a sua presença alí. Na intenção de que seus olhares encontrassem outros, aqueles que tanto ansiava encontrar. Aqueles olhares que sabia serem os mais belos. Os olhares que a levariam pra si. Sim, ela se deixaria levar. Seu cheiro sutil e adocicado, ao vento. Os beijos que seus lábios guardavam. Os abraços que embalavam seu corpo franzino, de curvas singelas e de desejos secretos. Ela pousava seus instantes naquela janela. Naquela espera, sem sequer acreditar que chegaria ao fim. Pois bem sabia, o fim havia de ser momentâneo. Tulipa sabia que tornaria a esperar. Pois que de espera fazia-se flôr, plantada naquela janela, à espera de ser colhida e guardada...




Lai Paiva