20 de junho de 2011

Eles e nada mais


Anoitecera sem que percebessem. Não se viam estrelas nem lua acima daquele momento. Apenas eles. Luiza e Antônio. Eles e os seus sentimentos afins. E aquele instante que deveria ser o último.

Aquele instante com sabor de café com leite.

Beijaram-se como de costume. Aquele costume dos seus lábios. Aqueles lábios que se misturavam tão uniformemente. Aqueles lábios que mal cabiam no beijo um do outro.

Acarinharam-se como sabiam tão bem fazer. As mãos de Antônio levaram Luiza tão dentro de si. Ela se aninhava dentro dele e guardava-se bem ali. Na intenção de não mais sair de lá. Da sua recordação mais terna.

As mãos de Luiza, por sua vez, acompanharam os contornos do rosto de Antônio como se estivessem a desenhá-lo. Sem esquecer um detalhe sequer daqueles traços marcantes que via e que a deixara encantada desde a primeira vez em que pousou nele o seu olhar.

Havia paixão materializada neles. Nos dois. Uma porção em cada um. E quando uniam suas porções, não havia medida na paixão. Nem palavras que falassem por ela, nem músicas que a embalassem, nem cheiro que a externasse.

A paixão era tão somente deles. Eles eram a sua morada.

As horas insistiam em passar. A despedida se fazia notória. As cores começavam a sumir. E um silêncio tomava conta do pequeno espaço que os separava.

Os olhares se ausentaram. Os lábios secaram. Os braços afundaram-se naquele abraço que, sabiam, seria o último.

Não sabiam o que dizer um ao outro. Talvez fosse melhor silenciar. Às vezes as palavras dizem menos que os olhares. Às vezes unir os lábios diz mais que qualquer olhar. E basta.

Sentindo o momento da partida, ela quis abreviá-lo, mas ele pegou sua mão com tamanha certeza de que ainda a queria com ele e não a deixou ir. Ao menos não naquele exato momento. Ainda queria beijar as maças do seu rosto, o pescoço delicado, as pontinhas da orelha, a boca rosada.

Mas já era tão tarde. A noite já se esvaia. Assim como as esperanças de ainda serem um do outro.

De súbito, sentindo que não mais poderiam permanecer nos abraços um do outro, disseram em silêncio que sentiriam saudades.

Saudades de quando podiam matar as saudades sem que morressem de tanto querer... Como seria de agora em diante...


Lai Paiva


3 comentários:

  1. Beta querida, obrigada. Beijo grande!

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  2. Lindíssima poesia, parabéns! Envolvente e extremamente profunda, faz com que viagemos nela e com ela nos identifiquemos... gosto de poesias assim. Bom fim de semana, bja

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