6 de novembro de 2014

Vou morrer de saudade?


Todo o mundo sentiu, sente ou sentirá saudade de alguém ou de alguma coisa. É quase tão certo quanto a certeza da vida e da morte, do início e do fim de todas as coisas. Eu, por exemplo, não me reconheço sem saudades. Sou saudosista por natureza, sou movida à lembranças e sinto uma falta constante de pessoas e coisas que já passaram por mim. Mas do que mais sinto saudades mesmo é do amor. Na verdade, sinto saudades de quando eu gostava de amar. Do início do amor, de quando a gente se percebe amando e inundada de todas aquelas sensações bobas e juvenis, mas, sobretudo, adoráveis, que acompanham este sentimento tão nobre. Sinto saudades do amor quando não era tão triste, quando não era tão solitário. Sinto falta de uma razão, de uma explicação convincente pra continuar amando. Quando lembro do amor na sua forma doce, afável, invencível, chego a sentir a saudade doer tal qual a minha gastrite. E vir lá do fundo do meu estômago um desejo explicito de chorar até diluir essa ausência toda por trás dessa saudade bonita de se ver, de se ler, de se ouvir. Saudade boa é quando sentem por nós. Ou quando podemos matá-la antes que ela nos faça morrer um pouquinho a cada dia. Talvez muito em breve eu nem reconheça esta declaração extremista de agora. Ou talvez a saudade grite ainda mais alto. Os anos hão de avolumar os vazios em cada instante, cada lugar, cada sensação que era nossa, ou quem dera eu esteja enganada. Mas é inegável que algumas saudades não se dissolvem jamais. Mesmo depois de tantas despedidas...


Lai Paiva