21 de outubro de 2016


Eu não invento palavras para escrever. As palavras é que se inventam pra mim. Eu não escrevo o que sinto. As palavras é que são sentimentos descritivos. Eu não conheço uma infinidade de palavras. As palavras é que me conhecem bem. Eu não gosto tanto assim do que escrevo. As palavras é que me adoram. Eu, às vezes, nem sei o que escrever. As palavras é que sempre encontram as minhas expressões. Eu, certamente, não sou uma escritora. As palavras é que são o que sempre pretendi ser. Essas palavras não são simplesmente minhas. Eu é que as sou...


Lai Paiva

23 de junho de 2016


Sobre palavras... Acho que eu sempre soube que elas estariam comigo. Eu as descobri dentro de mim quando estava saindo da infância. Eu me despedi dessa fase, escrevendo. Eu dei boas vindas à adolescência, escrevendo. Eu passei por cada bom ou mau momento, escrevendo. As palavras sempre foram boas comigo, pois me mantiveram viva. Sempre me ensinaram aquilo que faltou quem ensinasse. E eu aprendi. Eu não saberia fazer outra coisa melhor, além de escrever. Não que eu fosse boa nisso, mas isto era muito bom para mim, comigo. A cada nova descoberta, a cada nova conquista, a cada nova desilusão, a cada novo sentimento, elas estavam bem ali, dentro de mim, se organizando para irem para fora. Para cada ausência, mais uma porção de palavras me eram companhia. Para cada paixão correspondida, muitas palavras com coração próprio saiam de dentro de mim. Para cada desamor, as palavras mais tristes e bonitas. Sempre elas; as minhas palavras. As únicas coisas que me pertenciam de verdade, e à quem pertenci sempre. E eu as escrevi para tantas pessoas. Umas, as guardaram, eu sei. Outras, as jogaram como à mim mesma. Como coisas que não servem mais. Como se não soubessem que, para mim, elas serviriam até a última palavra dita ou escrita. Como pedacinhos de mim mesma transformados em sílabas. E, de fato, nunca houve nada que me representasse tão fielmente como as minhas palavras. E nunca fui capaz de ser tão verdadeira, além de quando escrevo. Eu escrevo para conversar comigo mesma. Escrevo para declarar o que sinto àqueles que não me permitem sentir. Escrevo para doer menos, todas as mágoas que fui acumulando ao longo dos anos. Escrevo porque é o que sei oferecer de melhor e mais limpo. Escrevo porque não saberia viver, se não fossem as palavras se moldando no meu estômago. É de lá que elas saem. Não do meu coração. Neste, não cabe mais nada, porque já transbordei. E, sim, vou continuar escrevendo até as palavras envelhecem comigo, e mesmo que ninguém jamais as venha ler. Eu não escrevo para ser lida. Escrevo para me sentir. E para saber quem eu sou. Porque não haveria de ser diferente...

Lai Paiva

7 de junho de 2016

Dia dos Namorados


Para esse dia dos namorados eu não arrumei um namorado. Eu não me arrumei para encontrá-lo. Não arrumei as coisas fora do lugar dentro de mim. Nem me enfeitei por fora para os olhares de quem não tem olhos pra mim. Para esse dia dos namorados eu não programei romantismo algum para impressionar o coração alheio. Porque nenhum coração está batendo por mim, nesse dia dos namorados. Para esse dia dos namorados eu certamente terei preguiça de amanhecer bonita. Nesse dia dos namorados eu não me vestirei de namoradinha de ninguém. Não escreverei cartões amorosos, nem prepararei um jantar para dois. Não reunirei palavras afáveis, nesse dia dos namorados, pois não arrumei um namorado para lê-las. Não prepararei aquela receita sofisticada, pois não arrumei um namorado para sentir a textura dos ingredientes. Nesse dia dos namorados eu dormirei cedo. E não serei a melhor hora de ninguém. Nesse dia dos namorados o dia terá mais horas que de costume, só pra me fazer companhia. Para esse dia dos namorados, eu terei na memória os compromissos de trabalho do dia seguinte. Não, os maiores poemas de amor para recitar ao namorado que não arrumei. Não nesse dia dos namorados, talvez no próximo. Ou no próximo. Ou no próximo. Ou eu arrumo um namorado, ou, quem sabe, um namorado me arrume. E ai, então, o dia dos namorados se encaixe ao lado dos meus outros dias...


Lai Paiva

24 de maio de 2016

Sentir

Sobre sentir, eu sinto muito, mas só sei sentir em demasia. Sinto tudo como se só à   mim coubesse sentir. Sinto tanto, que mal cabe dentro de mim. Às vezes sinto por mim e pelos outros. Sinto-nos, eu e o todo. O sentimento do mundo inteirinho. Do meu universo. Às vezes não sinto nada. O sentir se esvai. E vai pra longe do meu sentimento. 
Sobre sentir, sinto que não devesse senti-lo. Sinto que não poderia vivê-lo. Mas sinto e isso é tudo. Sobre isso, não tenho nada a dizer. E, tudo a sentir. Sobre mim dizem os meus sentimentos. No sentir eu transbordo. Transbordando, espalho os meus sentimentos no mundo dos outros... 
E então, permaneço sentindo. Muito!


Lai Paiva 

23 de dezembro de 2015


Sobre o amor... Eu amei. E estava errada sobre isso. O amor não é lindo como escrevem. É um pequeno suicídio diário a partir do momento exato em que se ramifica dentro da gente. O amor traz nomes próprios que nunca mais se apagarão das nossas memórias. E farão um eterno barulho ensurdecedor aos nossos ouvidos enamorados. O amor bagunça tudo dentro da gente. Tira cada coisa do seu lugar. E a gente desaprende a reorganizar todos os outros sentimentos. A paz se esvai. E a gente experimenta um torpor inenarrável. É o mal mais gostoso de viver. A dor mais bonita de sentir. A poesia ao avesso. Não se vive de amor, se adoece por amar. E não há cura. Porque o amor é a maior força que há dentro de nós, lutando contra nós mesmos. Mas a gente não escolhe amar. O amor nos alcança quando menos o buscamos. A gente vai sempre encontrá-lo no improvável. E vivê-lo sem pretensão. Vai ser assim pela eternidade de cada um de nós. Porque o amor não termina quando a gente acaba... Nem pra mim e nem pra ninguém...


Lai Paiva 

13 de novembro de 2015

Quem é ela?*

* presente de um dos meus amigos mais íntimos e lindos, que se fez poeta por um instante pra me poetizar. Eu, de tão encantada, pedi permissão pra trazer pra cá. Não o "poeta", mas a poesia...


26/10/15 

Quem é ELA?

Quem é esta mulher que se veste de palavras tocantes... para manter intocáveis os seus mistérios e amantes?

Que é ELA, que se compraz da poesia e de dores... para viver intensamente os seus desejos e amores?

Quem é ELA, que se despe da vaidade de se tornar conhecida... para reverenciar seu sucesso apenas após sua própria partida?

Quem é ELA, que não sabe se Quintana tem sabor de chocolate ou é o oposto... já que ambos são deliciosos e possuem o mesmo gosto?

Quem é ELA, que voa em meio a uma abelha e uma coruja colorida... enquanto assiste Roberto Carlos cantar sobre uma fera ferida?

Quem é ELA, que vê nos espinhos do cacto tanta realeza... Enquanto nutre dentro de si tanta beleza?

Quem é ELA? Olha ELA AÍ! Olha "ELAÍ"... É ELAÍ, NÉ?! É... É ELA sim...




1 de novembro de 2015

Eterna


Gosto de me demorar
Na alegria dos outros
No bem que sentimos
Numa eternidade abraçada
Em olhares ternos
Nas conversas leves
Nos lugares simples
Em verdades limpas
Na lembrança boa
Em saudades com nome
Gosto mesmo é
De ser "pra sempre"
No "pra sempre" dos outros


Lai Paiva


31 de outubro de 2015

Sobre pessoas e pessoas


Alguns têm medo da solidão
Outros, de nem tê-la ao lado
Alguns sentem tudo em demasia
Outros, pouco tem o que sentir
Alguns dão muito de si
Outros nada querem receber
Alguns fazem morada dentro da gente
Outros estão sempre de portas fechadas
Alguns estão prontos pro outro
Outros, não serão nunca pra gente
Alguns são o que julgamos ser o amor
Outros, jamais o seriam pra nós
Alguns nasceram pra gente viver
Outros, pouco sabem da nossa existência
Alguns são fragmentos da gente
Outros se negam a sê-lo
Alguns são para amar
Outros, para esquecer...



Lai Paiva

27 de outubro de 2015



Das vezes de se gostar
As vezes de ser em vão 
Nas vezes de se querer
As vezes de estar sozinha
Por vezes e tantas vezes
As vezes não são pra todos
De vez em quando eu sei
Que vez alguma é dada
Se a vez não há de ser essa...


Lai Pai 

26 de outubro de 2015



Que a gente queira
Não um amor sossegado
Mas a bagunça amorosa ideal
Que a gente busque
Não o par perfeito
Mas alguém que nos faça “nós”
Que a gente encontre
Não a certeza do “pra sempre”
Mas a paixão na indecisão do outro
Que a gente viva
Não o encontro marcado
Mas uma eternidade inesperada
Que a gente ame
Não o amor dos poetas
Mas a loucura de gostar um do outro

Lai Paiva


23 de outubro de 2015

Mais que...



Mais que o amar falta o amor. Alguém que demore no outro. Abraços infindáveis. Beijos inconfundíveis. Falta uma alma olhar para a outra e reconhecer-se. Falta coragem pra ganhar um ao outro. Falta uma intimidade mais cúmplice. Mais que a nudez de um, diluída na nudez do outro. Falta a vontade de um morar na vontade do outro. Ternamente e no tempo de cada um. Falta tempo pra perder junto. E uma eternidade para plantar. Faltam olhares poéticos. E verdade nas curvas dos sorrisos. Falta o cheiro de um repousando no abraço do outro. Falta carinho no canto da boca. E a certeza do gosto de cada um. Falta mais toque, menos solidão. Faltam menos borboletas no estômago, mais estrelas no coração. Mais que o amar falta o amor sair do papel e ganhar nome próprio. Basta  que esqueçam os lábios entreabertos...



Lai Paiva


5 de setembro de 2015



Então o amor é isso. Esse abismo antipoético entre a paz e a saudade aflitiva. Essa ausência invencível. Essa dor tão boa de sentir. Essa solidão avolumada pela distância. Essa vontade de esvaziar-se ao mesmo tempo em que se transborda de lembranças quentes e pulsantes. E amar consiste nessa insanidade linda e corrosiva.
Então o amor se escreve com mais de quatro letras e sua pronúncia transita entre uma doce melodia e uma angustiante memória. Há o desejo imensurável de voltar a vivê-lo, lutando para engolir a sã consciência de que é melhor mata-lo dentro de si.
Então o amor é mais do que era quando ele estava aqui. É o que resta de quem fica. O detalhe mais gritante, em cada lugar que se vá. O cheiro que persiste. O gosto intravenoso. O silêncio que isola do mundo externo. As canções que foram escolhidas a dois. As palavras recrutadas para acarinhar com precisão. A perda de grande parte de tudo.
Então o amor é o maior risco a se correr. A pequena morte diária de quem ama. O acerto mal calculado. A tristeza mais afável. A inspiração insensata. A esperança nascida em vão.
Então o amor é, sobretudo, esse desespero secreto que ninguém pode colher nos olhos de quem o sente. E torna tudo impossível depois que chega. E tudo inútil depois que se vai...




Lai Paiva

3 de maio de 2015

Sobre a efemeridade das coisas amorosas


Uma hora a hora passa. O dia finda. Uma hora o chuveiro falha e aquele banho morno deles esfria. Uma hora aquele cheiro suave do abraço se perde. Uma hora aquela voz marcante não marca mais nada. Uma hora o sorvete do petit gateau derrete. Uma hora o café perde os pães de queijo para melhorá-lo. Uma hora as declarações de amor silenciam. Uma hora os e-mails apaixonados perdem suas letras e frases. Uma hora a lua cheia deixa de chamar atenção. Uma hora a conchinha do dormir de conchinhas vira pro outro lado. Uma hora o beijo não encontra a outra boca. Uma hora a pele não arrepia mais nem nas temperaturas mínimas. Uma hora o açúcar acaba e o bolo de laranja perde o sabor. Uma hora a sopa esfria e não dá mais para tomar. Uma hora o telefone pára de tocar. Uma hora as mensagens não chegam mais. Uma hora perde-se o último fio de contato. Uma hora a carona da manhã não chega mais. Uma hora não se ouvem mais as mais charmosas reclamações sobre o trânsito. Uma hora certas canções preferidas deixam de ser as preferidas. Uma hora a espera não faz mais sentido. Uma hora a gente entende porque certas pessoas não suportam a ideia de usar relógios. Uma hora a gente sente um aperto em algum lugar entre o tórax e o abdómen , que dá vontade de apertar mais ainda. Uma hora tudo que era real vira lembrança. Uma hora as pessoas deixam de ser pessoas para serem saudade. Uma hora a vida se atravessa no meio do viver e causa uma bagunça tamanha. Uma hora o romance se desconstrói. Uma hora a gente é obrigado a desconstruir tudo, inclusive as memórias. Uma hora a única coisa que vai restar é um último beijo, roubado, meio a contragosto, mas só pelo fato de saber-se o último. Uma hora estas horas alcançam os nossos ponteiros. Inevitavelmente...

Lai Paiva

28 de março de 2015

Sobre uma despedida


Quando o dia chegar
E chegar a hora de ir
Não vá por inteiro
Deixe-me mais
Que um último beijo
E leve a sua certeza
De haver sempre em mim
Uma doce espera
De ser-nos outras e tantas vezes
O amor novamente
Com aquela loucura nossa
Com aquele arrepio único
Com aqueles instantes raros
E vá sem me acenar
Sem me avisar
Simplesmente voe
Pra longe da minha liberdade
Pra perto das suas escolhas
Como havia de ser
E fique por lá
Que eu vou aprender a ficar sem você
Como me impulsiona agora
Enfim...


Lai Paiva

21 de março de 2015

Sobre o Dia da Poesia


No dia da poesia eu continuo poetizando sem métrica e sem rima. Eu continuo transformando em versos tudo aquilo que não sei transformar em outra coisa. Eu continuo escrevendo, quando não for possível viver. Eu continuo juntando as palavras que não saem de perto de mim. Eu continuo amando exageradamente naquele silêncio que só os igualmente loucos de amor podem ler nas entrelinhas. Eu continuo sentindo tudo com o dobro da intensidade recomendada pela própria vida. Eu continuo guardando os sentidos e os sentimentos que não há razão para doar. Eu continuo me transcrevendo sem pudor e sem receio da exposição desmedida que os poetas acabam imprimindo e eu, os tento copiar despretensiosamente. Eu continuo sendo poeta sem ser. Eu continuo sendo poesia. Eu continuo buscando aliviar os instantes ao escrever. Eu continuo me libertando escrevendo. Eu continuo enfeitando os meus sentimentos. Eu continuo oferecendo a minha escrita aos olhos dos que me leem. Eu continuo implodindo. Eu continuo me desnudando. Eu continuo com a poesia de antes. Eu continuo com a mesma poesia. Eu continuo desejando me eternizar. Eu continuo, sim, com a poesia dentro de mim, cravada, marcada e marcante. Eu continuo com versos livres circulando dentro de mim. Eu continuo piegas por gostar tanto de poesia e por ser tendenciosa a poetizar o mínimo que escrevo. Eu continho viva e poética. Eu continuo contraditória como a poesia muitas vezes o é. Eu continuo, pois continuar é ter sempre algo mais a escrever e eu sou interminável...




Lai Paiva

17 de fevereiro de 2015

Sobre os fantasmas de cada um


Quase todo o mundo cresce ouvindo uma ou outra história assombrosa, com fantasmas e outros seres assustadores. Faz parte da infância. E quando crescemos os fantasmas continuam rondando, mas já não nos assustam mais. Passam a ter nome próprio e cheiro peculiar. Muitos deles são doces, ternos, amáveis. E eram reais até o momento que alguma coisa os move a deixar de ser. Então passam a rondar apenas a nossa imaginação solitária. Eu tenho os meus, como cada um os tem. Há aqueles que já não aparecem mais. Ficaram perdidos em algum lugar em que meus pensamentos não visitam mais. Há apenas um quase me assombrando com a mesma frequência com a qual os ponteiros do meu relógio imaginário se movimentam, contando o tempo em que já não o vejo mais. Levam meses até um fantasma tomar esta forma. E talvez leve a vida inteira para perder-se onde já não se possa mais alcançar. Talvez leve a eternidade, que nem sei se me pertence, para que não seja tão nítido o seu rosto, para que não seja tão presente a sua ausência. Há fantasmas e fantasmas. Cada um assombrando à sua maneira. Cada um com seu beijo nu, livre de qualquer impedimento àquela união. Cada um com seu poder imensurável de entrar no outro e ser-lhe a própria alma. Cada um com suas formas perigosamente sedutoras. E são para isso que servem os fantasmas: para rondar os nossos pensamentos e confundir a nossa visão, a nossa razão. Para isso que servem os fantasmas. Nos abraçar como se estivessem mesmo na nossa pele. Nos olhar como se estivessem fincados à nossa frente, em frente ao nosso desejo insano de que ainda fossem reais. Melhor quando faziam parte do nosso temor infantil. Quando o queríamos longe dos nossos corações. Pior será, talvez, quando nem fantasmas forem mais. Quando, enfim, se dissolverem como todas as lembranças, para que se tornem passado. Para que cada um livre-se daquilo que não pode mais tocar. É só o que devemos querer: não contar nem cantar fantasma algum. Antes a solidão errante... Pois, na verdade, nós devemos é ter medo dos fantasmas que aprendemos a amar na vida adulta.


Lai Paiva

28 de dezembro de 2014

Um início para um final de ano


Sempre que um ano anuncia o seu final as pessoas tendem a refletir sobre o que fizeram e o que deixaram de fazer, de tudo aquilo que estabeleceram como meta ou, simplesmente, tiverem vontade ou necessidade de fazer e não o fizeram. Comigo não poderia ser diferente. Especialmente comigo. Mas também pude ver nos olhares perdidos de algumas pessoas ou ouvir claramente nos seus momentos silenciosos que não fui a única a não cumprir, a não realizar, a não executar meus planos, meus desejos, meus sonhos. Acontece. Como também deixa de acontecer, certas vezes. Viver é isso. Fazer e se abster. Bom, mas ao final desses dias, desses meses, desse ano inteirinho de oportunidades que tivemos e que nos foram podadas, não há de haver lamentações. Elas não serão transformadas em realizações. Não mesmo. Lamentar é sofrer tudo de novo, já li em algum em alguma rede social. Se alguma coisa ficou na gaveta, no papel, na memória, já era, por hora. Agora é planejar melhor. Realizar nos próximos meses, no próximo ano, que está pertinho de onde guardamos nossas esperanças. Acreditar sempre! Não é assim que se começa algo?! Então eu desejo que este finalzinho de ano nos possibilite armazenar as nossas frustrações num lugar onde a gente não volte pra visitar. Que a gente possa acreditar mais na gente e menos em qualquer pessoa que nos minta como quem diz verdades doces. Que a gente possa reconhecer à distância os males disfarçados de coisas boas e as pessoas que nos olham sem nos enxergar. Que nossos talentos sejam enaltecidos e que possamos ter oportunidades maiores e melhores para explicitá-los. Que o amor nos faça acreditar nas relações amorosas. Que não nos falte saúde, mesmo que tudo pareça perdido. Que Deus nos faca senti-lo exatamente como ele é: grande e presente. Que haja mais respeito entre todos, sem que uns e outros se achem melhores ou piores por um ou outro detalhe de cor, religião, orientação sexual, nível intelectual ou poder aquisitivo. Cada um sabe de si, ninguém precisa de aprovações ou acusações. Que isso fique cada vez mais claro. Somos do tamanho que nos damos. Da importância que nos julgamos. Que o ano novo nos livre das tristezas deste ano que nos acena. Que a gente possa ter aprendido para não cometer os mesmos erros. Que possamos manter perto da gente apenas quem mereça nosso valor e nossa dedicação. Que entendamos, todos, que não estamos fadados à ser infelizes nem a morrer um pouco a cada dia, pois, enquanto o sol nascer para a gente, haverá uma nova chance de tentar de novo e de novo e de novo, até a gente acertar e fazer valer a pena cada momento. E que venham muitos momentos! Que estejamos preparados para todos. Coragem para todos nós frente aos nossos medos. Somos maiores que eles, certamente! Beijo, beijo, beijo!

Um Feliz Ano Novo para todos nós! Especialmente para cada um de nós!

Amém!

Lai Paiva

6 de novembro de 2014

Vou morrer de saudade?


Todo o mundo sentiu, sente ou sentirá saudade de alguém ou de alguma coisa. É quase tão certo quanto a certeza da vida e da morte, do início e do fim de todas as coisas. Eu, por exemplo, não me reconheço sem saudades. Sou saudosista por natureza, sou movida à lembranças e sinto uma falta constante de pessoas e coisas que já passaram por mim. Mas do que mais sinto saudades mesmo é do amor. Na verdade, sinto saudades de quando eu gostava de amar. Do início do amor, de quando a gente se percebe amando e inundada de todas aquelas sensações bobas e juvenis, mas, sobretudo, adoráveis, que acompanham este sentimento tão nobre. Sinto saudades do amor quando não era tão triste, quando não era tão solitário. Sinto falta de uma razão, de uma explicação convincente pra continuar amando. Quando lembro do amor na sua forma doce, afável, invencível, chego a sentir a saudade doer tal qual a minha gastrite. E vir lá do fundo do meu estômago um desejo explicito de chorar até diluir essa ausência toda por trás dessa saudade bonita de se ver, de se ler, de se ouvir. Saudade boa é quando sentem por nós. Ou quando podemos matá-la antes que ela nos faça morrer um pouquinho a cada dia. Talvez muito em breve eu nem reconheça esta declaração extremista de agora. Ou talvez a saudade grite ainda mais alto. Os anos hão de avolumar os vazios em cada instante, cada lugar, cada sensação que era nossa, ou quem dera eu esteja enganada. Mas é inegável que algumas saudades não se dissolvem jamais. Mesmo depois de tantas despedidas...


Lai Paiva 

14 de setembro de 2014

Uma Questão de Matemática

De tantas coisas que a gente vai ouvindo na trajetória que corresponde à vida, uma delas diz respeito à soma das partes que resultam num todo pelo qual a gente esperava ou que acaba nos surpreendendo. Tem relação também com ação e reação, com consequências. Até porque já virou clichê a afirmação de que toda ação gera uma reação, uma consequência. Isso é matemática. E a matemática não é de todo uma chatice tamanha. Ela nos propicia a soma e os resultados. E eu fui aprendendo mais sobre isso com o passar dos anos. Aprendi a somar as partes que eu precisava pra compor o todo desejado. Aprendi a somar, buscando chegar aos resultados que me felicitavam. Mas essas somas nem sempre foram satisfatórias. Também  fui avolumando frustrações por não ter as partes suficientes para chegar ao todo. As somas nem sempre foram exatas, então os resultados, também não o eram. E isso deixava lacunas, claro. Sem que eu pudesse sempre preenchê-las. Alguns vazios não se preenchem jamais. Por isso, exatamente, é que a soma das partes é o que mais importa para se chegar ao todo. A precisão para unir, relacionar e obter o resultado. E tantos são os resultados, e tantas vezes não foram os desejados. Mas aí a gente acata. Aceita. Poucas pessoas contestam a matemática, não é mesmo? Ou refazem os cálculos. Poucos ousam. E já dizia o Fernando Pessoa: "tudo  parece ousado para quem nada se atreve". Eu já me atrevi muitas vezes, mas chega um momento em que a gente se rende, se deixa vencer e aceita as somas e os resultados que os instantes e os outros nos ofertam. Eu ainda tenho muitas partes que gostaria de somar. Ainda não cheguei ao todo. Não sei se hei de chegar. Acho que estou mais inclinada a abrir mão da matemática. Não é tão bom assim ser parte de alguma coisa que não será somada... Uma operação incompleta não pode ser admitida de forma tão recorrente assim, seja na  matemática ou dentro de mim. Isso eu aprendi direitinho....

Lai Paiva


15 de agosto de 2014

Pressa de quê?


As pessoas vivem com pressa de alguma coisa. O tempo parece sempre escasso. A vida parece sempre veloz. Eu tenho pressa em ser amada. Pressa em ser cuidada e mimada como o amor propicia. Tenho urgência em nao me sentir tão sozinha às sextas à noite. Tenho um desejo desesperado em cozinhar pra alguém e encontrar este alguém ao meu lado quando acordar no meio da noite. Eu tenho muita, mas muita pressa mesmo, em viajar acompanhada, em dividir meus anseios, meus temores. Pressa em preparar duas xícaras de café, ao invés de apenas uma, nas manhãs de domingo. Tenho comigo um amor apressado. Uma vontade incontrolável  de amar quem queira e mereça meu amor.  Pressa em ter um par de olhos pra beijar e de pés para fazer massagens que abrandem o cansaço da rotina. Tenho pressa em ter alguém para ouvir e falar sobre o dia, pra me ajudar a escolher o filme do sábado à tarde e o próximo livro a ser lido. Tenho uma urgência poética por alguém que me inspire. Uma pressa gostosa em ser um casal. Eu tenho mesmo toda essa pressa. De parar de contar o tempo de estar só. De encontrar um amor que sirva pro meu amar.  E, assim, transformar minha pressa em outra. 


Lai Paiva