No dia da poesia eu continuo poetizando
sem métrica e sem rima. Eu continuo transformando em versos tudo aquilo que não
sei transformar em outra coisa. Eu continuo escrevendo, quando não for possível
viver. Eu continuo juntando as palavras que não saem de perto de mim. Eu continuo
amando exageradamente naquele silêncio que só os igualmente loucos de amor
podem ler nas entrelinhas. Eu continuo sentindo tudo com o dobro da intensidade
recomendada pela própria vida. Eu continuo guardando os sentidos e os sentimentos que não há razão para
doar. Eu continuo me transcrevendo sem pudor e sem receio da exposição
desmedida que os poetas acabam imprimindo e eu, os tento copiar despretensiosamente.
Eu continuo sendo poeta sem ser. Eu continuo sendo poesia. Eu continuo buscando
aliviar os instantes ao escrever. Eu continuo me libertando escrevendo. Eu
continuo enfeitando os meus sentimentos. Eu continuo oferecendo a minha escrita
aos olhos dos que me leem. Eu continuo implodindo. Eu continuo me desnudando.
Eu continuo com a poesia de antes. Eu continuo com a mesma poesia. Eu continuo
desejando me eternizar. Eu continuo, sim, com a poesia dentro de mim, cravada,
marcada e marcante. Eu continuo com versos livres circulando dentro de mim. Eu
continuo piegas por gostar tanto de poesia e por ser tendenciosa a poetizar o
mínimo que escrevo. Eu continho viva e poética. Eu
continuo contraditória como a poesia muitas vezes o é. Eu continuo, pois
continuar é ter sempre algo mais a escrever e eu sou interminável...
Lai Paiva