23 de setembro de 2011

Apenas eu...








A solidão sempre me amedrontava. O medo de ficar só, sem amigos, sem parentes, sem amores. Sem história, sem momentos relevantes. Acreditava veemente que não iria à lugar algum se sozinha estivesse. Como se alguém precisasse me guiar literalmente. Me sentia de certa forma insuficiente. Me achava sempre metade de alguém ou de alguma coisa. Nunca o todo. Buscava nos outros o reflexo de mim mesma, a inspiração pra dizer algo, pra escrever algo, pra fazer algo. Pior, buscava nos outros a essência de mim mesma. A essência que já devia conhecer como só minha. Sentia sempre infeliz, incompleta, perdida se me faltasse um amigo ou um amor naqueles momentos em que eu mesma tentava sabotar o contentamento em estar só que acomete todo e qualquer ser humano. Assim passei anos da minha vida. Desses 33, ao menos 20. Buscando me encontrar nos outros. Na vida dos outros. Como se no peito de cada pessoa que conhecia batesse o meu próprio coração. Eu sempre me senti só, muitas vezes até enquanto estava inteiramente acompanhada. Eu achava que não me bastava. Eu achava que não me era suficiente. Achava que só existia sob a sombra de outras pessoas. Quanta ingenuidade e covardia de me enxergar como uma pessoa inteira e independente. Foi preciso um caminho tão longo e tão árduo. Foram necessários tantos desencontros pra poder me encontrar. Foi preciso me perder pra saber que não estava sozinha porque eu estava sempre alí, comigo. E me recusava, me afastava. Meu medo de estar só, de ficar só, me fazia a pessoa mais solitária que podia supor. E eu não entendia isso. Precisei perder tudo o que julgava ser tudo pra mim. Pra perceber que eu estou bem aqui. E que eu posso tudo, se em tudo eu acreditar. Eu posso mais, eu posso ser quem eu sou, sem ser movida à inspirações alheias. Se eu quiser ser boa ou má, grande ou pequena, eu serei por vontade própria, sabendo quem estou sendo e porque o serei. E só agora, constatando isso aí, me olhando e me notando, percebo o quanto eu me anulei. Tantos anos se passaram e só agora eu estou me descobrindo. E de fato querendo estar só. Não para sempre, mas pelo tempo que me for suficiente para recuperar o tempo que perdi sem ser eu. Mas o tempo dura exatamente o quanto a gente precisa. Sim, eu preciso estar só. Pra nunca mais achar que estou sozinha. Porque simplesmente eu tenho á mim e eu sou a pessoa que mais me importa agora. Com quem quero e vou manter o meu melhor e maior caso de amor e cumplicidade.

Lai Paiva

7 comentários:

  1. Linda as palavras... Beijocas Milinha

    ResponderExcluir
  2. Minha querida Lai.
    Texto maravilhoso!
    Você a cada dia mais forte, daqui a pouco levanta esse mundo!
    Sabe o valor que tem e ainda abusa da modéstia escrevendo o título texto como “Apenas eu...”
    Beijos, minha querida.

    ResponderExcluir
  3. Milinha minha flôr, obrigada. Beijos mil


    Ricardo, meu poeta amigo, é uma honra e uma alegria grande ser lida e elogiada assim. Obrigada pela visita. Beijo

    ResponderExcluir
  4. dizem que nossa melhor companhia somos nós mesmos.

    dificil ver as pessoas irem embora, mas que fiquem só as que querem ficar com o coraçao.

    e sim, vc é mais importante.

    ResponderExcluir
  5. E nunca mais estará só, pois estará com a melhor pessoa do mundo.

    Sentir-se bem na própria companhia é um grande passo para felicidade.

    Muita sabedoria nas suas linhas!

    Beijo e ótima semana!

    ResponderExcluir
  6. Luiza querida, é bem por aí. Beijos e obrigada por sempre voltar.


    Joakim, estou me apegando mais à isto agora. Obrigada, querido.

    ResponderExcluir
  7. Flor...
    Parabéns pelas inspirações,
    leio sei Blog sempre que possível e me identifico quase sempre com seus textos.

    Xeru e mais e mais inspirações.

    ResponderExcluir