10 de maio de 2011

Aquela que não mais se via


Além daquelas montanhas esverdeadas, num casebre à beira do rio, por entre o silêncio daquele lugar, vivia Laís. A moça dos olhos ressentidos. Do olhar distante. Dos passos curtos e sem destino. Passos que não sabiam aonde chegar.

Colhia frutos, plantava flores, banhava-se no rio, vestia-se da serenidade daquele lugar. Saía e voltava sem pressa nem horário marcado.

As horas não lhe pertenciam.

Laís fugira dos sentimentos alheios. De paixões que lhe desconcertavam. De amores que lhe roubavam. De desejos que lhe venciam.

Escolhera ser aquele o seu lugar, fora das lembranças dos que ficaram pra trás. Longe era onde se encontrava segura. Protegida de desilusões. E dos sentidos que não eram seus.

Sim, fugira, sem se despedir. Pois que nas despedidas deixaria um pouco de si, sabia, e queria partir inteira.

Naquelas montanhas, bem no alto, plantou o que lhe restava de esperanças.

Esperanças de tornar a ver seus olhos livres. E seu corpo suave como pluma. Cheiroso como a chuva. Vivo como as borboletas.

E talvez pudesse voar. Com a liberdade que seu sentir lhe tomara.

E talvez ela sorrisse de novo. Como já tanto fizera, antes de ser quem é.

Lai Paiva

Maio/2011

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