11 de janeiro de 2014

Sobre Sapatos e Livros


Quase todas as pessoas têm desejos invencíveis por comprar determinadas coisas. É a tal da compulsão. Eu, feliz ou infelizmente, não passo alheia à este grupo. E, reconheço, sem querer ser extremista, mas sendo obrigada a sê-lo, que um grande percentual da população mundial está nesse exato momento comprando algo, e no momento seguinte também, e no outro, e no outro, e no outro. Porque estamos todos sempre buscando algum tipo de prazer e a compulsão oferece muito, muito, muito prazer. Embora, algumas vezes, seguido de algum sentimento de culpa. Eu, por exemplo, posso perfeitamente passar por qualquer vitrine sem ser tomada por um desejo insano de comprar, exceto se for de sapatos e de livros. É definitivamente impossível me abster de comprá-los. Livros e sapatos fazem meus olhos brilharem, minha respiração ofegar, meu coração disparar. Como paixão à primeira vista. E daí eu sempre acabo sucumbindo às compras. Tenho tantos livros quanto sapatos. Sapatos lindos. Livros maravilhosos. E percebo que há uma relação interessante entre eles. É como se os sapatos me propiciassem caminhos diferentes, me impulsionassem a seguir, a descobrir trajetórias. E enfeitassem os meus passos. Os livros, por sua vez, também põem caminhos diferentes à minha frente. E eu os escolho conforme a beleza transcrita, o encanto, o momento. Pra cada lugar que eu vou, um sapato diferente nos pés. E a escolha não é aleatória. É um pouco instintiva e intencional ao mesmo tempo. Mas a questão é que eles sempre me levarão à algum lugar. Descalça eu não vou à lugar algum. Eu não avanço. Com os meus livros a relação é a mesma. Eu os escolho ao folheá-los, pela impressão das orelhas, da capa, da contra capa, pela sensação que despertam em mim nesses instantes. Eles me conquistam pela oferta implícita de me fazer avançar por algum caminho do qual eu hei de regressar, certamente, escrevendo as minhas próprias palavras. Então é por isso que, vez ou outra, eu me pego reorganizando meus armários em busca de mais espaço para acomodar meus sapatos e livros. E a gente segue vivendo essa relação cúmplice uns com os outros. Eu, meus sapatos e meus livros. E, talvez, se os outros compulsivos pudessem enxergar a compulsão alheia, eles me dariam as mãos e me acompanhariam para mais uma compra. Dessas de empobrecer a conta bancária, mas de enriquecer os meus pensamentos frutíferos.


Lai Paiva


Um comentário:

  1. Olá Karine, muito obg pela visita e apreciação. Vou lá conhecer o seu! E volte sempre!

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