26 de janeiro de 2014

Sobre tempestade e o estar só


Sempre que chove através da minha janela eu me pego observando a rua lá fora. Livre dos transeuntes, completamente úmida e assustadora. Há quem ache somente linda a tempestade. Com aquela infinidade de sons peculiares, cheiro de terra molhada e ausência de cores. Sim, há uma beleza que não passa despercebida, mas há certo tom de melancolia e medo. Os trovões e relâmpagos que não nos deixam mentir, nem adormecer tranqüilos. A tempestade me inquieta. E conseqüentemente me inspira também porque tudo o que me inquieta me inspira e me transforma um pouco em palavras. Mas, em contrapartida, me amedronta ao ponto de me congelar, de me encolher embaixo do cobertor. Não por medo de me molhar, mas por medo de ser atingida, ferida. A solidão é exatamente assim. Uma tempestade de ausências barulhentas e opacas que atingem a gente. E que nos dilui. O estar só me põe líquida. E temerosa. Mas, da mesma forma, me inquieta ao ponto de me inspirar e impulsionar a minha escrita mais visceral, intimista. Põe-me como uma rua em dia de tempestade. Vazia de transeuntes. Com os mesmos trovões e relâmpagos. Uma sonoridade que ninguém ouve. Raios que ninguém vê. É bem assim. O estar só é tão chuvoso. A tempestade é tão solitária. E nesse misto de melancolia, beleza e medo, através da minha janela ou dos meus olhares, o estar só vai chovendo dentro de mim, e vou então trovejando pra ver se me ouvem...


Lai Paiva




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