19 de julho de 2011

Sentir de estômago



(Amanda Cass)




Sempre ouvi por aí as pessoas dizerem que sentem com o coração. Amam de coração, adoram de coração. Coração apertado de saudade, coração pequenininho por alguma sentimentalidade. Aumentam e diminuem as dimensões de seus corações como se estivessem a desenhá-lo a cada situação de alegria ou tristeza, de perda ou ganho. Algumas pessoas, as ditas mais bem resolvidas, mais experientes, dizem “mandar” nos seus corações. Escolhendo quem entra e quem sai, o que guardam lá, o que tiram de lá. Como num grande espaço público em que um ticket dá acesso livre. Um ticket que, na maioria das vezes, se dá em troca de algo, outras, se ganha. E assim movimentam seus corações como se fosse necessário este movimento para se sentirem vivos.

Sim, é romântico e bonitinho dizer que sentem com o coração. Soa melhor, enfeita melhor as declarações de amor, de carinho, de amizade. Mas meu coração não passa de um órgão vital desprovido dessa função sentimental tão anunciada. Eu sinto mesmo é com o estômago. Sinto amor, paixão, saudade, medo, raiva, ansiedade, tudo. Sinto bem ali naquela bolsa de paredes ferventes. Num misto de dor e prazer. Seja bom ou ruim, grande ou pequeno, forte ou ameno, meu sentir sempre nasce e morre lá. E aí meu estômago pulsa, arde, grita.

Não, o nome disso não é gastrite. É viver intensamente, sentir exacerbadamente. Assim como cabe a mim, como sempre coube. E assim será sempre...



Lai Paiva

Um comentário:

  1. Se com o coração ou com o estomago, mas o importante é se dar ao direito de sentir, de viver, de se permirtir. Parabéns Lai, sempre gosto de ler você.
    Sapo

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