18 de abril de 2011

O menino que não sabia amar


Era metade do ano dois mil quando os olhos daquela menina pousaram pela primeira vez naquele menino lindo. De uma juventude atraente. De um olhar acolhedor. De uma timidez apaixonante.

Estava ansiosa. Era o primeiro encontro. Arrumou-se e perfumou-se para ele. Pôs várias roupas, achando que nenhuma era perfeita pra ocasião, mas acabou se decidindo pela que achou que causaria uma boa impressão. Discreta e sutil. Naquele dia ela se vestira para ele, só para ele. Mas ele jamais deveria saber disso.

A campanhia anunciou sua chegada. E o ar logo lhe faltou.

Abriu a porta como quem abre os braços pra dar o melhor abraço. Ele a olhou nos olhos, depois desceu o olhar sobre seu corpo inteiro e lhe disse simplesmente que ela era linda. Sim, ele a achou linda dentro daquela roupa que julgara simples demais para aquele primeiro encontro. Queria ter coberto o corpo de flores para ele...

Sentiu uma alegria tão boba e gostosa. Aquele instante tinha sabor de doce de leite... E cheiro de primeira vez.

Ele entrou, sentou, tomou sua mão, conversaram. Ela o olhava com tamanha fixação, na intenção de gravar cada detalhe daquele menino tão lindo. Sabia que uma hora ele iria ter que ir embora e já o queria mais ali.

Ele a elogiava como um poeta. Pareciam versos os elogios que lhe destinava.

Aquele menino a conquistou tão rapidamente quanto fora aquele encontro.

Dalí ao primeiro beijo passou-se um tempo de uma deliciosa conquista dia a dia. Ele bem soube ganhar pra si todo o apreço daquela menina, sua atenção, seu desejo.

Ela o queria. Era certo.

Beijá-lo era de um prazer imensurável e único. Cada beijo parecia ser o primeiro e último.

E eles pareciam visitar o coração um do outro quando uniam seus lábios.

Apaixonou-se rapidamente. Assim como quem abre e fecha os olhos...

Apaixonou-se pelas suas palavras ditas, escritas e até pelas silenciadas.

Pelo seu carinho e cuidado. Pela atenção que lhe tinha. Pelo seu jeito de lhe inspirar despretensiosamente.

Ele não parecia ser de verdade. Era tão afável. Transmitia uma paz interior. Uma liberdade.

Logo ela o estava amando. Sim, amando como jamais havia lhe visitado o amor antes. Forte, muito e amiúde.

O amor daquela menina era tão exclusivista e tão expressivo. Ela o amava com os olhos, com as mãos, com os lábios, com a alma, com versos e canções.

Ela lhe falava de amor. Ele desconhecia a palavra, o sentir, as causas, as conseqüências.

Desconhecia as palpitações que o amor desperta, o suor e o arrepio.

Era como se amar lhe fosse inatingível. O amor, um completo desconhecido.

E a menina se perguntava como um sentimento assim podia se ausentar de alguém.

Mas podia. O amor nunca havia marcado um encontro com ele. Nunca haviam se visto antes. Nunca se encontrariam.

Pobre menino lindo. Pois que ele não sabia amar.

Pobre menina apaixonada. Pois que estava condenada a amar sozinha. Por si e por ele.

Ele não sabia amar. Assim, sem saber.

Mentia que amava. Amava mentindo. Falava “eu te amo” como quem dava presentes. Caixas de presentes vazias.

Era feito de mentira o amor que lhe declarava.

E ainda assim ele sabia tão bem se fazer amar. Despertava um amor tão dele. Um amor que se reafirmava dele a cada dia.

Ela o amou sem olhar para trás. Amou com um amor desses sem medida, sem fim.

Amou demais... Ainda que com medo. Sim, aquele amor a assustava.

Amar sozinha seria de uma solidão aparente, cedo ou tarde. Ela sabia. Mas ainda assim não conseguia recuar.

Sabia que não lhe contentaria por muito tempo um amor de mentira como o que ele lhe ofertava. Chegou a desejar esvaziar-se de todo e qualquer sentimento para sempre. Em alguns momentos desejava que o amor lhe abandonasse.

Mas não, o amor persistia. Ficava ali. Exatamente ali. Devia julgar ser ali o seu lugar.

O menino partiu. Ela o mandou embora. Ele já devia querer ir.

Deveria declarar seu amor de mentira para outros amores de verdade.

Mandou-o embora sabendo que mandava embora tudo o que tinha dentro de si.

Aquela menina que quis viver para amá-lo, acabou sentindo-se morrer de tanto amor.

E ela só precisava lhe ensinar a amar. E isso a faria eterna. E eles se fariam eternos.

Ficou só.

Sozinha, com o maldito perfume perfeito que aquele menino havia escolhido tão bem.

Ela ainda o sentia tão perto.

Ela o queria perto. Mesmo sabendo que nunca o teria de verdade.

Mas já era tão tarde. Ele já devia estar sob olhares e amores alheios.

E o amor, ah o amor, essa coisa desconhecida pra alguns, continuava tão íntimo daquela menina...

Lai Paiva


10 comentários:

  1. O final ainda há de ser feliz... É assim que acontece com toda linda história de amor.

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  2. lai... eu li as duas versões... e esta me parece de longe, muito mais viva.
    Já dizia o poeta Paulo Leminki:
    Amor, então,
    também, acaba?
    Não, que eu saiba.
    O que eu sei
    é que se transforma
    numa matéria-prima
    que a vida se encarrega
    de transformar em raiva.
    Ou em rima.

    Que o seu se transforme em rima.

    beijo enorme.

    Roberta

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  3. Lindo, triste, mas inspirador do amor eterno, enquanto dure.

    Tati

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  4. Que linda sua externação do amor eterno, do amor que fica. Contagiante e belisimo seu poema, amei. Beijos e Feliz Pásoaa.

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  5. Amiga... Sem comentários... Meu coração esta apertando e vc imagina o meu estado agora, né?!
    Amo tu cara de tatu!!!! Miloca

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  6. Simples e profundo, como as melhores coisas da vida.
    Bjão amiga
    Saudade de tu!!
    =)

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  7. Lindo!! Mas gostei desgostando... você leu minha estória em algum lugar? Foi como se eu estivesse revivendo...foi tudo tão igual, cheguei até a chorar.

    Mas sem dúvidas, lindo.

    bjs

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  8. vc e loucos vai pra puta que pario

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  9. hahahahahahahahahahahahaha

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