
28 de abril de 2011
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Amo
24 de abril de 2011
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21 de abril de 2011
A carta de Elise
O inverno havia chegado mais cedo naquela pequena cidade do interior de Pernambuco. Chovia horas seguidas. Pausava. Voltava a chover. Alagava Ruas e calçadas. Praças. Banhava e arrastava o que via pela frente. Muita coisa ficava fora do lugar após cada precipitação. E muita coisa voltava ao seu lugar em seguida.
Nesse período quase não se via pessoas nas ruas. Apenas aquelas que, ou precisavam de fato sair, por algum motivo justificável, ou de fato viviam na rua.
Elise se enquadrava na primeira opção, pois que lhe eram justificáveis as suas saídas. Ao menos para ela.
A chuva não era impedimento para ela seguir com sua rotina inadiável.
Nem os trovões, nem os relâmpagos, os quais não a amedrontavam a ponto de fazê-la se esquivar.
Elise era uma ávida escritora. Uma apaixonada pela escrita livre. Uma jovem de 20 anos, branca como uma nuvem, cabelos longos e encaracolados, escuros. Magra e de estatura mediana. Franzina.
Todos os dias, naquele mesmo horário, por volta do meio dia, sob sol ou chuva, ela saía. Andava dois quarteirões inteiros em direção aos correios para postar um envelope branco médio numa das caixas que ficava bem em frente ao prédio. Era um movimento quase obrigatório, metódico, rotineiro. Aquela caixa dos correios provavelmente esperava todos os dias a sua carta cair-lhe, bem como, inconscientemente, deviam esperar todas as pessoas pelas quais ela passava todos os dias. E Elise as cumprimentava com um doce sorriso no rosto. Um rápido cumprimento, pois havia pressa em destinar suas cartas.
Ela escrevia muitas cartas. Cartas com remetente e destinatário. Cartas que aquele envelope branco acarinhava ao guardá-las.
Eram cartas de amor, cartas de amizade, eram cartas diversas. E ela sabia tão bem usar as palavras. Ela sabia tão bem externar o que vinha de si. Ela se transformava em palavras pra os que a liam. E os que a liam tinham a ideia exata de quem era aquela menina escritora. E o que ela trazia dentro de si. Os seus sentires...
Papel, caneta e sentimentos. Juntos, resultando nas cartas mais verdadeiras que se podia ler. Os manuscritos mais graciosos. Que a tecnologia não ofuscou.
Numa certa sexta feira, por volta do meio dia, Elise atravessara aqueles dois quarteirões que a levavam aos correios, como de costume. O sol havia aparecido imponente. Estava quente. Mais pessoas transitavam pelas ruas. As ruas estavam secas. As árvores, livres, ao vento. Elise levava mais de um envelope desta vez. Um médio, branco, outro pequeno azul claro.
Cumprimentou as pessoas timidamente, como sempre fazia, caminhou com passos mais rápidos. Parecia ter certa pressa. Parecia ansiosa.
Ao pôr-se de frente à caixa dos correios, para depositar as cartas, de uma só vez, foi surpreendida por um sonoro cumprimento bem próximo ao ouvido. Uma mão tocou-lhe o ombro direito. Um toque suave. Neste momento virou-se rapidamente, de modo que não percebeu que apenas uma das cartas fora depositada na caixa. A do envelope maior.
Gael era seu nome. O moço do cumprimento sonoro e do toque suave. O moço de barba por fazer e olhos amendoados. Um lindo moço.
Aquele que a fez nervosa e a dispersou.
Ficaram parados ali por alguns instantes. O suficiente para apenas concordarem que o tempo estava bom naquele dia. Elise mal sabia se portar em frente àquele moço. Ele a inquietava. Então o mais fácil era fugir. Deu uma desculpa qualquer para abreviar aquele momento e seguiu a passou rápidos de volta para casa.
Gael também havia ido depositar umas correspondências. Alguns documentos, nada de cartas. Foi quando notou que havia algo no chão. Um pequeno envelope azul claro.
De súbito, pegou o envelope entre as mãos e olhou ao redor na intenção de verificar se havia alguém ali perto. Não havia. O envelope estava aberto. Quem o deixou cair ali havia se esquecido de fechá-lo. Hesitou. Mas tirou a carta que havia dentro. Não se importou em saber o destinatário, mas o remetente.
Sim, era uma carta de Elise.
Logo a imagem dela lhe veio à lembrança.
Olhou para os lados, na intenção de ainda tornar a vê-la. Nem sinal.
Estava sozinho. Ele, aquele instante e aquela carta.
Caminhou um pouco até a praça mais próxima. Sentou-se. Hesitou mais uma vez. E mais uma.
Ler ou não ler?
Na dúvida, pôs-se a ler...
A carta começava com “meu querido...”, sem citar nome.
E seguia assim...
Meu querido,
É tão cedo pra esse meu sentir. Ainda não sei como devo chamá-lo, pois que ainda não sei medi-lo. Receio mostrar-lhe e encontrá-lo sem compartilhar do mesmo sentimento. Não o culparia. É tão cedo, de fato. Mas meus olhos já estão tão acostumados aos seus. Parece que você sempre esteve aqui. Parece que sempre estive esperando você chegar. E que cada dia só nascia depois que o seu cheiro se misturava ao meu. Mal nos tocamos e eu já imagino o gosto que têm os seus lábios. Devem ser tão doces. Devem ter o mesmo gosto bom que têm os melhores momentos da vida de uma pessoa. Eu passaria a vida inteira beijando-os. Ah, se não fosse essa minha timidez tão minha assim. E eu pudesse lhe falar do meu desejo, enfim. Só queria apenas dizer como me sinto quando você está por perto. Eu me sinto pequena demais pra tamanha euforia. A sua presença, mesmo que você nem sequer me note, como eu gostaria de ser notada, faz de mim a garota mais alegre de todo o espaço onde seus olhos possam alcançar. Acredite. Se isso tem nome, eu não sei, mas sei que acho que queria você pra mim, assim como se quer algo muito, muito bom.
Um beijo,
Elise.
Sentiu um misto de culpa por ter lido algo que não lhe pertencia, por estar fazendo algo que sabia ser errado, e encantamento, por ter lido palavras tão singelas e ternas. Tornou a ler a carta mais duas vezes. Sentiu-se tomado por aquelas palavras.
Quem seria aquele meu querido? Para quem ela destinava aquelas palavras? Aquele sentir...
Não sabia. Não saberia. Jamais poderia perguntar-lhe. Ela jamais o perdoaria por ler algo que não era seu.
E Gael desejou que fosse sua aquela carta. Que fossem pra ele aquelas palavras ritmadas, apaixonadas. Desejou que ele fosse aquele querido.
Um querido não identificado. Um sujeito enamorado e oculto.
Dobrou o envelope, guardou a carta no bolso da calça e pôs-se a caminhar de volta pra casa. Teve a impressão de estar ouvindo uma canção linda, a sua preferida. Aquele momento tinha um som especial.
Começou a chover de repente. A rua esvaziou-se. Continuou caminhando lentamente, sem preocupar-se com nada além da sua lembrança. Aquelas palavras iam sendo ouvidas lá de dentro da sua lembrança. Sopradas no seu ouvido. E Elise lhe aparecia linda, como num sonho. Ainda que ele não tivesse a vaga ideia de onde ela podia estar. Ainda que ela estivesse longe. Não importava, pois, para ele, ela estava bem ali, sob a chuva, no ritmo daquelas palavras, na magia daquele momento.
Lai Paiva
Eu, chuva...

20 de abril de 2011
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19 de abril de 2011
Mensagem de celular...
Abriu a bolsa cinza grande, expressiva. Abriu o zíper com a leveza de quem abre o zíper do próprio vestido. Quando quer despir-se com afinco. Com uma das mãos buscou aquele aparelho celular médio, prateado, fino. Com os dedos alongados, de unhas bem feitas em cor azul, se pôs a tocá-lo, como quem toca a si, em momentos de intimidade. Tocou letra a letra. Delicadamente. Como num ritmo eloqüente. Palavras iam se formando à medida que mais caracteres iam sendo sutilmente inseridos naquele visor. Por fim, um último toque. E aquelas palavras formuladas tão secretamente estariam no visor de outro aparelho. E alguém haveria de tocá-lo ou tocar-se em resposta...
Lai Paiva
18 de abril de 2011
O menino que não sabia amar
Era metade do ano dois mil quando os olhos daquela menina pousaram pela primeira vez naquele menino lindo. De uma juventude atraente. De um olhar acolhedor. De uma timidez apaixonante.
Estava ansiosa. Era o primeiro encontro. Arrumou-se e perfumou-se para ele. Pôs várias roupas, achando que nenhuma era perfeita pra ocasião, mas acabou se decidindo pela que achou que causaria uma boa impressão. Discreta e sutil. Naquele dia ela se vestira para ele, só para ele. Mas ele jamais deveria saber disso.
A campanhia anunciou sua chegada. E o ar logo lhe faltou.
Abriu a porta como quem abre os braços pra dar o melhor abraço. Ele a olhou nos olhos, depois desceu o olhar sobre seu corpo inteiro e lhe disse simplesmente que ela era linda. Sim, ele a achou linda dentro daquela roupa que julgara simples demais para aquele primeiro encontro. Queria ter coberto o corpo de flores para ele...
Sentiu uma alegria tão boba e gostosa. Aquele instante tinha sabor de doce de leite... E cheiro de primeira vez.
Ele entrou, sentou, tomou sua mão, conversaram. Ela o olhava com tamanha fixação, na intenção de gravar cada detalhe daquele menino tão lindo. Sabia que uma hora ele iria ter que ir embora e já o queria mais ali.
Ele a elogiava como um poeta. Pareciam versos os elogios que lhe destinava.
Aquele menino a conquistou tão rapidamente quanto fora aquele encontro.
Dalí ao primeiro beijo passou-se um tempo de uma deliciosa conquista dia a dia. Ele bem soube ganhar pra si todo o apreço daquela menina, sua atenção, seu desejo.
Ela o queria. Era certo.
Beijá-lo era de um prazer imensurável e único. Cada beijo parecia ser o primeiro e último.
E eles pareciam visitar o coração um do outro quando uniam seus lábios.
Apaixonou-se rapidamente. Assim como quem abre e fecha os olhos...
Apaixonou-se pelas suas palavras ditas, escritas e até pelas silenciadas.
Pelo seu carinho e cuidado. Pela atenção que lhe tinha. Pelo seu jeito de lhe inspirar despretensiosamente.
Ele não parecia ser de verdade. Era tão afável. Transmitia uma paz interior. Uma liberdade.
Logo ela o estava amando. Sim, amando como jamais havia lhe visitado o amor antes. Forte, muito e amiúde.
O amor daquela menina era tão exclusivista e tão expressivo. Ela o amava com os olhos, com as mãos, com os lábios, com a alma, com versos e canções.
Ela lhe falava de amor. Ele desconhecia a palavra, o sentir, as causas, as conseqüências.
Desconhecia as palpitações que o amor desperta, o suor e o arrepio.
Era como se amar lhe fosse inatingível. O amor, um completo desconhecido.
E a menina se perguntava como um sentimento assim podia se ausentar de alguém.
Mas podia. O amor nunca havia marcado um encontro com ele. Nunca haviam se visto antes. Nunca se encontrariam.
Pobre menino lindo. Pois que ele não sabia amar.
Pobre menina apaixonada. Pois que estava condenada a amar sozinha. Por si e por ele.
Ele não sabia amar. Assim, sem saber.
Mentia que amava. Amava mentindo. Falava “eu te amo” como quem dava presentes. Caixas de presentes vazias.
Era feito de mentira o amor que lhe declarava.
E ainda assim ele sabia tão bem se fazer amar. Despertava um amor tão dele. Um amor que se reafirmava dele a cada dia.
Ela o amou sem olhar para trás. Amou com um amor desses sem medida, sem fim.
Amou demais... Ainda que com medo. Sim, aquele amor a assustava.
Amar sozinha seria de uma solidão aparente, cedo ou tarde. Ela sabia. Mas ainda assim não conseguia recuar.
Sabia que não lhe contentaria por muito tempo um amor de mentira como o que ele lhe ofertava. Chegou a desejar esvaziar-se de todo e qualquer sentimento para sempre. Em alguns momentos desejava que o amor lhe abandonasse.
Mas não, o amor persistia. Ficava ali. Exatamente ali. Devia julgar ser ali o seu lugar.
O menino partiu. Ela o mandou embora. Ele já devia querer ir.
Deveria declarar seu amor de mentira para outros amores de verdade.
Mandou-o embora sabendo que mandava embora tudo o que tinha dentro de si.
Aquela menina que quis viver para amá-lo, acabou sentindo-se morrer de tanto amor.
E ela só precisava lhe ensinar a amar. E isso a faria eterna. E eles se fariam eternos.
Ficou só.
Sozinha, com o maldito perfume perfeito que aquele menino havia escolhido tão bem.
Ela ainda o sentia tão perto.
Ela o queria perto. Mesmo sabendo que nunca o teria de verdade.
Mas já era tão tarde. Ele já devia estar sob olhares e amores alheios.
E o amor, ah o amor, essa coisa desconhecida pra alguns, continuava tão íntimo daquela menina...
Lai Paiva
17 de abril de 2011
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16 de abril de 2011
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15 de abril de 2011
14 de abril de 2011
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13 de abril de 2011
10 de abril de 2011
9 de abril de 2011
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8 de abril de 2011
Sou... eu.
6 de abril de 2011
Poema de amor pras amigas...
