23 de junho de 2016


Sobre palavras... Acho que eu sempre soube que elas estariam comigo. Eu as descobri dentro de mim quando estava saindo da infância. Eu me despedi dessa fase, escrevendo. Eu dei boas vindas à adolescência, escrevendo. Eu passei por cada bom ou mau momento, escrevendo. As palavras sempre foram boas comigo, pois me mantiveram viva. Sempre me ensinaram aquilo que faltou quem ensinasse. E eu aprendi. Eu não saberia fazer outra coisa melhor, além de escrever. Não que eu fosse boa nisso, mas isto era muito bom para mim, comigo. A cada nova descoberta, a cada nova conquista, a cada nova desilusão, a cada novo sentimento, elas estavam bem ali, dentro de mim, se organizando para irem para fora. Para cada ausência, mais uma porção de palavras me eram companhia. Para cada paixão correspondida, muitas palavras com coração próprio saiam de dentro de mim. Para cada desamor, as palavras mais tristes e bonitas. Sempre elas; as minhas palavras. As únicas coisas que me pertenciam de verdade, e à quem pertenci sempre. E eu as escrevi para tantas pessoas. Umas, as guardaram, eu sei. Outras, as jogaram como à mim mesma. Como coisas que não servem mais. Como se não soubessem que, para mim, elas serviriam até a última palavra dita ou escrita. Como pedacinhos de mim mesma transformados em sílabas. E, de fato, nunca houve nada que me representasse tão fielmente como as minhas palavras. E nunca fui capaz de ser tão verdadeira, além de quando escrevo. Eu escrevo para conversar comigo mesma. Escrevo para declarar o que sinto àqueles que não me permitem sentir. Escrevo para doer menos, todas as mágoas que fui acumulando ao longo dos anos. Escrevo porque é o que sei oferecer de melhor e mais limpo. Escrevo porque não saberia viver, se não fossem as palavras se moldando no meu estômago. É de lá que elas saem. Não do meu coração. Neste, não cabe mais nada, porque já transbordei. E, sim, vou continuar escrevendo até as palavras envelhecem comigo, e mesmo que ninguém jamais as venha ler. Eu não escrevo para ser lida. Escrevo para me sentir. E para saber quem eu sou. Porque não haveria de ser diferente...

Lai Paiva

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