12 de setembro de 2013

Tempestade



Tanta coisa acontecendo dentro daquela moça. E ninguém percebia. E ninguém a olhava por trás dos seus olhos aflitos. Chovia torrencialmente bem dentro dela. E os seus sentimentos escorriam por entre as frestas que só ela sabia que estavam abertas. Frestas que foram abertas onde deveriam ter sido plantadas suas flores preferidas. Bem da cor e do cheiro que ela adorava. Por entre cada parte dela, cada parte que a chuva de agora diluía. Sim, ela estava se tornando líquida. E tudo ao redor permanecia como estava. Alheio à sua mudança de estado. Como se ela fosse, não uma tempestade inteira, mas apenas uma gota. E talvez ela de fato quisesse ser apenas uma gota pra sentir tão pouco tudo aquilo que sentia se avolumar cada vez mais. Todo aquele sentir exacerbado e contra o qual ela lutava intimamente para não deixar transbordar. Uma luta em vão, pois que era em vão lutar contra sua natureza em sentir e mostrar-se imersa naquilo tudo. Por isso ela chovia. Chovia mesmo. Com ventania, trovões e relâmpagos. E mesmo assim ninguém percebia. Porque ela era silenciosa. Amava em silêncio. Sofria em silêncio. Sonhava em silêncio. Vivia em silêncio. E acho que iria estar assim até sua última gota. E ainda assim o sol permaneceria reluzente pra todos do lado de fora dela...


Lai Paiva

3 comentários:

  1. Adorei esse poema, é de sua autoria? Eu copiei ok?

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  2. Nossa agora que eu vi que você postou no dia do meu aniversário e reflete perfeitamente meu momento. Lindo, lindo, se for de sua autoria me avise para que eu posso divulgar com o crédito.

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  3. Olá, Alessandra, obrigada pela visita e apreciação. Tudo que aqui está é de minha autoria, salvo algumas letras de canções que postei há algum tempo, com os devidos créditos. Beijo.

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