2 de julho de 2013

Sobre Cactos e o Amor



Todo o mundo gosta de alguma coisa. Todo o mundo gosta muito de alguma coisa. Todo o mundo é enamorado em demasia por algo. Eu sou por cactos. De todo tipo: palma, mandacaru, cabeça de frade, etc. Eu os acho fortes, imponentes, e, mesmo parecendo contraditório, apesar dos espinhos, eles conotam pra mim uma beleza tão singela, tão tocante, que me faz passar muitos instantes a admirá-los. Esqueço de contar o tempo quando estou frente a um. Parece que o tempo não passa pra que eu não deixe de contemplá-los. Seja de que tipo ou tamanho for. E, claro, eu tenho os meus próprios cactos na minha casa. Estão comigo há anos, sob os meus cuidados e admiração. Gosto de ser surpreendida ao verificar se está tudo bem e me deparar com seus novos espinhos nascendo. Pra mim é como ver algo se renovando. Aqueles espinhos são o resultado do meu apreço, da minha proteção, do meu cultivo. Isso me felicita tanto quanto qualquer outro momento de contentamento maior. O amor é bem assim. Com espinhos e tamanha beleza. E, assim como os cactos, o amor também precisa de terreno fértil e de cuidados especiais, mas nada muito complexo. Por exemplo, no que concerne aos cactos, é preciso atentar para o tamanho dos vasos. Se for muito pequeno pode acarretar a asfixia das raízes, fazendo com que cresçam pouco ou nada, levando-os à morte. Se for muito grande, consequentemente levará muita terra, o que aumentará a absorção da água, fazendo com que as raízes apodreçam. O amor também precisa de atenção. Amar não basta. É preciso cuidar do amor. É preciso uma dose diária de estímulo, de incentivo, de enaltecimento, de atenção. Dispersar-se do amor, é matá-lo. E é tão simples cuidar. O cuidado está nos pormenores. Ambos, amor e cactos, nascem, crescem, morrem. Mas, enquanto vivos, têm o mesmo dom de fascinar, de nos pôr em completo estado de torpor, de encantamento. Se a gente chegar muito perto do amor, sem a cautela de saber como tocar, a gente se machuca, assim como acontece com os cactos. E é possível, sim,  tocar o amor, porque o amor tem a forma que a gente dá pra ele, tem o nome que a gente dá pra ele. O nome próprio, a forma inteira, ou a metade. Os cactos também têm diferentes formas. À nossa escolha, embora a minha preferência seja por cactos, independente da forma. O amor tem contornos, tem voz, embora não seja exatamente audível. Só aqueles sujeitos amorosos podem ouvi-lo, visualizá-lo. Os cactos também só são vistos dentro da sua grandiosidade de ser por quem tem olhos para tal. A forma de olhar é que mostra ou oculta algo. Eu quero poder olhar pro amor como olho pros meus cactos todas as manhãs. Enxergando seus detalhes pra saber como me aproximar. Eu quero mais que isso. Quero me aproximar sem me machucar, nem com o amor, nem com os cactos, pra poder ajudá-los a crescer, a dar continuidade aos seus ciclos. Quero os meus cactos comigo em dias de sol e de chuva. Eu os colocarei no melhor lugar, seja pra tomar sol, seja pra se esquivar da chuva. E nos vasos mais apropriados. Quero o amor pra cuidar igualmente. Guardando no melhor lugar. Ao lado dos meus cactos, ou ao lado da minha presença pra ir comigo aonde quer que eu vá. Quero ambos na minha janela. E poder me sentir bonita como eles. Talvez com alguns espinhos, mas com um amor enorme pra amar. Basta que me saibam cuidar. Eu só desejo que haja mais tesouros assim, como cactos e amor, e pessoas que possam tê-los em casa e na alma, cuidando pra não interromper nenhuma etapa, nem matá-los. Eu desejo menos espinhos contundentes, mais amor irretocável. E isso só depende de quem está cuidando. Porque o amor, assim como os cactos, são pra gente aquilo que a gente os permite ser. E farão conosco, seja na janela ou na alma, o que estivermos abertos a deixar que façam. A beleza está bem onde eles estão. Bem à frente dos meus olhos, e porque não de outros? E eles são lindos, mesmo quando, eventualmente, nos machucam. Por isso estarei sempre de olhos bem abertos. E com a janela e a alma enfeitadas. Sempre!



Lai Paiva


2 comentários:

  1. OLÁ, Lai Paiva!
    Fiquei muito contente em encontrar o seu blog, em especial esta maravilhosa mensagem sobre "AMOR E CACTOS", que belas palavras...
    Admiro os cactos e cultivo um em meu local de trabalho, com o intuito de me inspirar a ser forte e cultivar a beleza e até mesmo as dificuldades das situações.
    Imprimi sua narrativa e deixei anexada junto com ele, achei muito linda.
    obrigada. Talita

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    1. Olá, Talita. Me felicita sua apreciação à minha escrita! De verdade! Volte sempre que puder e desejar e muito obrigada! Bj

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