18 de junho de 2013

Sobre Beijo e Chocolate



Pra certas coisas há outras coisas pra assemelhar. Dentre essas coisas pensei no beijo. Daqueles beijos de se querer beijar sem fim. Daqueles beijos de turvar os olhos e acelerar os batimentos cardíacos, a ponto de senti-los ecoar no peito de outro alguém. Um beijo de inflar os lábios, de umedecê-los, de causar calor e despertar amor. Um beijo de liberar substâncias mágicas, de correr o corpo e terminar na alma. De um sabor que não se esquece nunca. De uma textura de não querer largar. Assim como o chocolate. Posto na boca, por entre os lábios, como num beijo, causa leveza e encantamento por seu sabor. Age suave, mas com a certeza de inebriar a quem o toca. Aquele gosto, do mesmo gosto do beijo alheio, de um bem querer, que faz querer muito. Mais de um beijo, uma barra grande de chocolate. Branco ou preto. Ao leito ou amargo. Selinho ou de língua. Dado ou roubado. O mesmo arrepio. O mesmo suspiro. Pupilas dilatadas e o esquecer de respirar. Endorfinas que apaixonam. Sensação que vicia. Liberdade pra sentir-se bem. Um cheiro pra viver recordando. Saliva e cacau. Hálito e açúcar. Desejo e moderação. Calorias e derretimento. É o beijo derretendo o prazer por dentro. E o chocolate misturando os sentidos. Dedos marcados por tamanha delícia. Lábios que beijam esses mesmos dedos. Vestígios que fazem querer mais. A boca pra comer de novo. A língua pra amaciar seu tom. O olfato pra se enamorar. Uma barra inteira num instante único. Um beijo longo pra uma vida toda. E se estiverem juntos há de ser maior que os olhares digam. Um perturbando o outro. De um perturbar macio. De um transpirar gostoso. Uma mistura íntima de ingredientes pra um sentir incomum. Na boca de quem a boca der para ser beijada. Beijos como chocolates. Derretidos naquela vontade. Uma vontade de sentir por horas, de durar um século, aquela maravilha de proporcionar ao corpo o sair de si pra entrar no outro, enquanto os lábios forem aquelas doces margens, que permeiam o apreço misturado ali. E depois levam à saudade. Um voltar de novo a beijar profundo o beijo exato pro contentamento. O chocolate de outrora, que se tornou líquido no saborear de quem o devorou. Em seguida a ânsia pela redundância daqueles instantes de chocolate e beijo. Que é por cada um e pelos dois iguais que a boca pede já inebriada e tão desejosa de provar de novo a grandiosidade daquele efeito que só ambos causam, até pelo avesso, no minuto exato em que os lábios rendem-se àquela semelhança de entorpecer como quase nada há de fazer igual.



Lai Paiva


2 comentários:

  1. E quem não há de querer o derreter-se do beijo, o derreter-se da barra?
    E quem não há de querer o entorpecer do sabor da língua do outro, como chocolate?

    Delícia de linhas, querida!

    Beijos e beijos!

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    1. Que bom que apreciou minhas linhas, Lelezinho. É uma honra. Beijos mil.

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