10 de março de 2012

A Escolha do Amar Demais




Sempre ouvira sobre o amor. Nunca lhe fora um completo desconhecido. Algumas vezes o sentiu mais de perto, noutras, pareceu-lhe inatingível. Algumas vezes quis sucumbir a vivê-lo, outras, desejou tornar-se incapaz. Presenciou sorrisos e suspiros, mas também lágrimas e silêncios. Percebeu as cores que o amor imprime naqueles que o compartilham mutuamente, bem como a ausência das mesmas quando este sentir se esvai para um dos sujeitos, enquanto o outro ainda o mantém intacto. Sabia que doía para uns, e que felicitava outros. Sim, sabia do amor mais que podia supor, ainda que não tivesse amado tantas vezes quanto fossem necessárias para saber tudo. Não havia de saber tudo, era certo. Só havia de sentir como sabia. Muito, intensamente.
Jamile amava João de um jeito dela, que lhe faltava palavras, olhares e beijos pra transferir todo o sentir. Amava-o em cada hora que lhe era concedida. Pensava nele em todos os seus instantes, beijando-o à distância, delicadamente, sem mover seus lábios, sem os tocar suave.
Cada encontro era esperado como se fosse o primeiro. Cada contato era o melhor toque, nunca se decidira pelo melhor entre tantos. Antes de pousar os seus olhos nele, já podia sentir o seu cheiro perfeito e o seu abraço acolhedor, onde encontrava o contentamento que sua alma buscava.
Dizia-lhe o quão grande era seu amor tantas vezes quanto piscava seus olhos. E nunca era o bastante. Seu sentir mal cabia nas suas declarações. Nem se diluído em suores e saliva ou transcritos em versos.
Ele era exatamente como ela imaginava um amor pra tê-lo seu. Sabia fazê-la sentir a mais nobre felicidade em todas as vezes que deitava sua presença sob a dela e a amava como ela desejava.
Jamile o queria sempre com ela. João fazia-lhe o bem que ninguém mais poderia. O seu sentimento precisava dele para materializar-se e mostrar-se inteiro. Mas nem sempre o tinha perto. Nem sempre ele estava além da sua lembrança viva, o que a conduzia a uma sensação doída de abandono. Era o amor fazendo-se triste.
Mas era tão cedo para conter-se ao amá-lo e tão tarde para deixar de amar assim. Ela era o que ele fazia com que fosse. E sentia o que ele concebia despretensiosamente e com tamanha exatidão.
João era a escolha de Jamile. Ele, com cada traço do seu rosto lindo, com cada movimento ou cessar deles, com suas palavras macias e seu silêncio denunciante.
E era a melhor escolha para o que o amor se propunha...

Lai Paiva


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