Pra certas coisas há outras
coisas pra assemelhar. Dentre essas coisas pensei no beijo. Daqueles beijos de se
querer beijar sem fim. Daqueles beijos de turvar os olhos e acelerar os
batimentos cardíacos, a ponto de senti-los ecoar no peito de outro alguém. Um
beijo de inflar os lábios, de umedecê-los, de causar calor e despertar amor. Um
beijo de liberar substâncias mágicas, de correr o corpo e terminar na alma. De
um sabor que não se esquece nunca. De uma textura de não querer largar. Assim
como o chocolate. Posto na boca, por entre os lábios, como num beijo, causa
leveza e encantamento por seu sabor. Age suave, mas com a certeza de inebriar a
quem o toca. Aquele gosto, do mesmo gosto do beijo alheio, de um bem querer,
que faz querer muito. Mais de um beijo, uma barra grande de chocolate. Branco
ou preto. Ao leito ou amargo. Selinho ou de língua. Dado ou roubado. O mesmo
arrepio. O mesmo suspiro. Pupilas dilatadas e o esquecer de respirar. Endorfinas
que apaixonam. Sensação que vicia. Liberdade pra sentir-se bem. Um cheiro pra
viver recordando. Saliva e cacau. Hálito e açúcar. Desejo e moderação. Calorias
e derretimento. É o beijo derretendo o prazer por dentro. E o chocolate
misturando os sentidos. Dedos marcados por tamanha delícia. Lábios que beijam
esses mesmos dedos. Vestígios que fazem querer mais. A boca pra comer de novo.
A língua pra amaciar seu tom. O olfato pra se enamorar. Uma barra inteira num
instante único. Um beijo longo pra uma vida toda. E se estiverem juntos há de
ser maior que os olhares digam. Um perturbando o outro. De um perturbar macio.
De um transpirar gostoso. Uma mistura íntima de ingredientes pra um sentir
incomum. Na boca de quem a boca der para ser beijada. Beijos como chocolates.
Derretidos naquela vontade. Uma vontade de sentir por horas, de durar um século,
aquela maravilha de proporcionar ao corpo o sair de si pra entrar no outro, enquanto
os lábios forem aquelas doces margens, que permeiam o apreço misturado ali. E depois
levam à saudade. Um voltar de novo a beijar profundo o beijo exato pro
contentamento. O chocolate de outrora, que se tornou líquido no saborear de
quem o devorou. Em seguida a ânsia pela redundância daqueles instantes de chocolate
e beijo. Que é por cada um e pelos dois iguais que a boca pede já inebriada e tão
desejosa de provar de novo a grandiosidade daquele efeito que só ambos causam, até
pelo avesso, no minuto exato em que os lábios rendem-se àquela semelhança de
entorpecer como quase nada há de fazer igual.
Lai Paiva
E quem não há de querer o derreter-se do beijo, o derreter-se da barra?
ResponderExcluirE quem não há de querer o entorpecer do sabor da língua do outro, como chocolate?
Delícia de linhas, querida!
Beijos e beijos!
Que bom que apreciou minhas linhas, Lelezinho. É uma honra. Beijos mil.
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