Amanhecera lindamente naquele
dia, como não acontecia há algum tempo. O sol aparecera mais imponente, mais
reluzente. Lícia contava as horas como se fosse ponteiro de relógio. Relógio
que não trazia em seu pulso, pois a angustiava ver como os minutos iam
absorvendo os instantes. Ansiava viver cada suspiro seu e cada instante daquela
espera, como se a vida fosse tão somente o passar dos dias, frente a ela, como
se ela os observasse esvaírem-se sem que ao menos amanhecesse com eles.
Era uma espera doce, mas ao mesmo
tempo angustiante. Sabia que chegaria ao fim, mas que, para isso, haveria de
esperar por horas. E a espera, ah, aquela espera parecia não ter fim de tão
urgente que se fazia.
Mais algumas horas separavam-lhe
dele. Pedro era seu nome. Ele, que havia ido embora, viajado quilômetros além
de seus olhos, levando consigo aquele desejo que semeou dentro dela. Deixou-a
só, com sua saudade dita e escrita, e sua paixão recém nascida.
Falaram ao telefone algumas vezes
e ela sempre o sentia sussurrar cada palavra ao seu ouvido. E cada palavra
tinha um efeito diferente e mais intenso à medida que ele as ia sussurrando. E
ele se mostrava encantado com suas poucas palavras roucas, sonolentas, que ela
lhe soprava também ao ouvido. Como numa troca carinhosa e íntima, pra desejar
um bom dia.
Escreviam-se as mais ternas
declarações de saudade, de carinho, de desejo. Desejo que parecia sem sentido,
pois eles mal se tocaram, mas que se tornava totalmente provido de sentido
através das palavras que escreviam um ao outro, no sentir que se intensificava
cada vez mais dentro de cada um e ao redor de ambos.
Naquele dia, que seria o dia
deles, Lícia escolheu seu melhor vestido. Um preto. Nem longo, nem curto,
justo, mas de uma sensualidade discreta. Não tinha a intenção de seduzi-lo, mas
de reconquistá-lo, já que só o tinha visto em duas efêmeras ocasiões. Escolheu
sandálias altas, pois que se achava charmosa ao calçá-las. Seu melhor perfume e
seu melhor sorriso. Nos lábios, leve tom rosa, como as maçãs de seu rosto.
Vestiu-se para ela e para ele. E para o fim daquela espera.
No aeroporto andava de um lado a
outro. Maravilhosamente trêmula. Com uma inquietação juvenil desconfortante e
deliciosa de sentir. Receava que a maquiagem sucumbisse ao calor excessivo que
sentia pela aproximação evidente. Queria estar bela e atraente para aqueles
olhares dele que queria só dela. O tempo nunca se estendera tanto.
E enfim, como tentou imaginar que
seria, cada vez que se recolhia em seu sono solitário, Pedro caminhava em sua
direção e ela flutuava para o seu abraço. Quando se tocaram, suas almas se
reconheceram de imediato e pareciam ser únicos, sem ninguém ao redor, apenas
eles e aquela paixão que encontrava seu melhor abrigo naquele primeiro beijo de
tantos outros, que seus lábios igualmente desejam por outras vezes mais...
Lai Paiva
Lindo Lai!
ResponderExcluirA arquitetura da paciência e do desejo. E o encontro-explosão.
ResponderExcluirEncantador conto, Lainezinha.
Beijos, beijos, beijos! :)