7 de setembro de 2013

A Morte do Jardim Secreto



Há muito tempo atrás havia uma garota especial naquela rua. No fim da rua. Onde as casas terminavam de tomar formas. Onde os passos de quem por ali andava tinham que terminar. E houve um tempo pra tudo dentro daquela garota. Tempo de chuvas torrenciais. Tempo de sol a pino. Tempo de folhas no chão. Tempo de flores e perfume no ar. Tempo de cores misturadas. Tempo incolor.  Tempo de galhos. Tempo de espinhos. Tempo de pétalas. Não à toa ela era observada com estranheza. Não incompreensivelmente ela encontrava-se sozinha. Todos a temiam. Não por causa da sua voz, do seu olhar, ou dos seus gestos. Mas porque ela era intrigante. E rara. Não parecia semelhante aos seus semelhantes. Ela fugia às regras. Ela era diferente. De uma maneira que mal se podia expressar. Mais que isso, ela trazia algo diferente e incomum dentro de si. E era um segredo enorme. Lindo. Um segredo plantado e sensível. Ela trazia um jardim inteiro consigo. De flores, pequenas árvores, cactos. Com terra firme e cheiro constante de vida. Uma mistura encantada de tons e texturas. Bem cuidadas e acarinhadas dia a dia. Aquele jardim nascera no lugar do seu coração. E pulsava tal qual ele. Com ramificações que levavam a cada parte do seu corpo o tom ideal, o movimento, o viver. E havia flores tão lindas. De uma beleza que nunca se podia esquecer. De uma diversidade tamanha, que só ela poderia registrar. Misturadas aos espinhos singelos dos cactos que se escondiam no meio daquelas pétalas. Era um jardim maravilhosamente numeroso, povoado. E estava bem ali dentro dela. Pros olhares dela. Pro cuidado dela. Pros sentimentos dela. Onde poucos estiveram a olhar. Quase ninguém a compreender. E uma única pessoa a poder tocar. Uma única pessoa. Pra quem ela entregou suas flores. Por quem ela enfeitou janelas e varandas. E ruas inteiras. Sem saber-se perdida e acometida por aquele pequeno suicídio diário, com um nome próprio, que ela plantou dentro dela, que ela amou como a cada flor daquele jardim, com o mesmo desejo de perpetuar aquele sentir, com a mesma tristeza ao saber que as melhores e mais belas coisas são as que primeiro acabam. Como aquele jardim, que ninguém  mais possuía igual. Como aquele amor, que nunca mais amaria igual.




Lai Paiva


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