A gente não aprende a ser só. A gente não aprende a gostar de ser só. A gente aprende apenas a estar só. Seja ou não por opção. Aprendemos a não contar com a presença de outra pessoa, ou de outras, por saber que elas não chegarão a qualquer momento, nem tampouco ficarão por todos os momentos seguintes. Aprendemos a não esperar por alguém que nos resgate da solidão que nos mantém aprisionados. Aprendemos que se não nos acostumarmos a estar apenas com nós mesmos, será muito mais difícil amanhecer, anoitecer, ser. Aprendemos a morar sozinhos dentro de nós. E aprendemos a ver filmes sozinhos, a ouvir canções sozinhos, a preparar o jantar e pôr a mesa para apenas uma pessoa, a dormir sozinhos, e a não ter com quem dividir as cobertas. E, mesmo que não bastemos à nós mesmos, é preciso nos manter aqui, dentro e fora de nós, não nos perder de quem somos, nem irmos embora de onde estamos, porque somos a única e fiel companhia constante de nós mesmos, a presença palpável, a voz que ouvimos, o rosto que podemos ver refletido no espelho, a certeza de que resta-nos alguém. Somos a ausência do diálogo e do abraço preenchido. Somos o único perfume e os únicos passos que podemos ouvir. Mas somos reais. E nos salvamos dia a dia. Porque a solidão pode nos levar tão longe. Pode nos roubar a identidade. Pode nos levar pra sempre. É preciso não esquecer de olhar pra si mesmo, ainda que não vejamos mais beleza alguma ao nos olharmos nos próprios olhos, pois é quando nos vemos que percebemos que existe algo além do que sabemos que não existe. E saber disso atenua o estar só, que, muitas vezes, perturba e amedronta como aqueles pesadelos infantis, que nos faziam ter tanto medo de dormir só, ou de sair da cama. O perigo está em nos deixar levar, pois o caminho pode não ter mais volta...
Lai Paiva
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