A tarde estava ao meio quando
Oliver parou o carro em frente à casa de Coraline pra buscá-la. Seria mais um
dos encontros dentro do carro, pelas estradas que os levavam pra onde eles mais
gostavam de ir. Ela já o estava esperando com uma ansiedade palpável, típica
dos apaixonados. Havia prendido o cabelo como ele gostava e estava usando um
vestido solto e curto, que lhe dava uma leveza acalentadora. Usava brincos
longos, mas delicados e havia pintado os lábios do mesmo vermelho que atribuía
ao instante exato em que encontrava os lábios dele.
Oliver estava charmoso, simples e
atraente. Por trás dos óculos escuros que usava estavam os mesmo olhos
castanhos inebriantes de todos os encontros, só que, desta vez, estavam
emoldurados de uma melancolia contagiante, o que parece que enaltecia ainda
mais a sua beleza e antecipava uma tristeza já sabida.
Eles seguiram por longas horas
perseguindo paisagens, algo mágico, que só ele a fazia experimentar. O céu
estava de um tom laranja avermelhado que comovia os olhares. O sol já estava se
despedindo deles. E eles, daquele instante tão raro. Raro como o que traziam
dentro de si e que nem um nem outro sabiam ao certo o quê.
As árvores dançavam, em sintonia
com as canções que ele pusera pra tocar dentro do carro e que mais parecia que
ecoavam de dentro dele. Depois de algum tempo o cheiro do mar já anunciava a
proximidade. Era o que Oliver planejava: levá-la pra perto do sol, tendo o mar
como espectador do estado de encantamento a que estava submetendo Coraline. Era o melhor presente que poderia dar-lhe. Ele
sabia.
Ficaram parados no alto de uma ladeira,
de onde se podia admirar tudo ao mesmo tempo, toda aquela irretocável
maravilha, que era o pôr do sol apaziguando o mar. E aquele instante os uniu
intimamente, sem que eles sequer se
tocassem. Os lábios dela permaneciam impecavelmente pintados, intocáveis, mas
ela o havia beijado amorosamente por trás daquele vermelho intenso. E suas mãos
se entrelaçaram com uma ternura já saudosa por saber-se ser o último, aquele
pôr do sol.
As horas passaram, enfim, e o dia
já não estava mais lá, dando espaço à ausência de cores que a noite trazia
consigo. A mesma ausência de cores daqueles últimos minutos em que eles estavam
um na presença do outro.
Fizeram o percurso de volta à
casa de Coraline sem muito dizer. Sabiam que quase nada mais restava a ser
dito. Nenhum discurso mais salvaria aquele sentimento tão único que eles
sentiam um pelo outro. Tudo estava perdido. A cor, o som, a vida. Não naquelas
paisagens, mas onde apenas eles conheciam e ousaram estar: dentro de cada um.
O dia seguinte viria, mas nunca
mais haveria sol nas manhãs em que eles amanheceriam sem os beijos vermelhos
somente deles.
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