27 de dezembro de 2012

O Ultimo Sol



A tarde estava ao meio quando Oliver parou o carro em frente à casa de Coraline pra buscá-la. Seria mais um dos encontros dentro do carro, pelas estradas que os levavam pra onde eles mais gostavam de ir. Ela já o estava esperando com uma ansiedade palpável, típica dos apaixonados. Havia prendido o cabelo como ele gostava e estava usando um vestido solto e curto, que lhe dava uma leveza acalentadora. Usava brincos longos, mas delicados e havia pintado os lábios do mesmo vermelho que atribuía ao instante exato em que encontrava os lábios dele.
Oliver estava charmoso, simples e atraente. Por trás dos óculos escuros que usava estavam os mesmo olhos castanhos inebriantes de todos os encontros, só que, desta vez, estavam emoldurados de uma melancolia contagiante, o que parece que enaltecia ainda mais a sua beleza e antecipava uma tristeza já sabida.
Eles seguiram por longas horas perseguindo paisagens, algo mágico, que só ele a fazia experimentar. O céu estava de um tom laranja avermelhado que comovia os olhares. O sol já estava se despedindo deles. E eles, daquele instante tão raro. Raro como o que traziam dentro de si e que nem um nem outro sabiam ao certo o quê.
As árvores dançavam, em sintonia com as canções que ele pusera pra tocar dentro do carro e que mais parecia que ecoavam de dentro dele. Depois de algum tempo o cheiro do mar já anunciava a proximidade. Era o que Oliver planejava: levá-la pra perto do sol, tendo o mar como espectador do estado de encantamento a que estava submetendo Coraline.  Era o melhor presente que poderia dar-lhe. Ele sabia.
Ficaram parados no alto de uma ladeira, de onde se podia admirar tudo ao mesmo tempo, toda aquela irretocável maravilha, que era o pôr do sol apaziguando o mar. E aquele instante os uniu intimamente,  sem que eles sequer se tocassem. Os lábios dela permaneciam impecavelmente pintados, intocáveis, mas ela o havia beijado amorosamente por trás daquele vermelho intenso. E suas mãos se entrelaçaram com uma ternura já saudosa por saber-se ser o último, aquele pôr do sol.
As horas passaram, enfim, e o dia já não estava mais lá, dando espaço à ausência de cores que a noite trazia consigo. A mesma ausência de cores daqueles últimos minutos em que eles estavam um na presença do outro.
Fizeram o percurso de volta à casa de Coraline sem muito dizer. Sabiam que quase nada mais restava a ser dito. Nenhum discurso mais salvaria aquele sentimento tão único que eles sentiam um pelo outro. Tudo estava perdido. A cor, o som, a vida. Não naquelas paisagens, mas onde apenas eles conheciam e ousaram estar: dentro de cada um.
O dia seguinte viria, mas nunca mais haveria sol nas manhãs em que eles amanheceriam sem os beijos vermelhos somente deles.

Lai Paiva


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