Sempre ouvira sobre o amor. Nunca
lhe fora um completo desconhecido. Algumas vezes o sentiu mais de perto,
noutras, pareceu-lhe inatingível. Algumas vezes quis sucumbir a vivê-lo,
outras, desejou tornar-se incapaz. Presenciou sorrisos e suspiros, mas também
lágrimas e silêncios. Percebeu as cores que o amor imprime naqueles que o compartilham
mutuamente, bem como a ausência das mesmas quando este sentir se esvai para um
dos sujeitos, enquanto o outro ainda o mantém intacto. Sabia que doía para uns,
e que felicitava outros. Sim, sabia do amor mais que podia supor, ainda que não
tivesse amado tantas vezes quanto fossem necessárias para saber tudo. Não havia
de saber tudo, era certo. Só havia de sentir como sabia. Muito, intensamente.
Jamile amava João de um jeito
dela, que lhe faltava palavras, olhares e beijos pra transferir todo o sentir. Amava-o
em cada hora que lhe era concedida. Pensava nele em todos os seus instantes,
beijando-o à distância, delicadamente, sem mover seus lábios, sem os tocar
suave.
Cada encontro era esperado como
se fosse o primeiro. Cada contato era o melhor toque, nunca se decidira pelo
melhor entre tantos. Antes de pousar os seus olhos nele, já podia sentir o seu
cheiro perfeito e o seu abraço acolhedor, onde encontrava o contentamento que
sua alma buscava.
Dizia-lhe o quão grande era seu
amor tantas vezes quanto piscava seus olhos. E nunca era o bastante. Seu sentir
mal cabia nas suas declarações. Nem se diluído em suores e saliva ou
transcritos em versos.
Ele era exatamente como ela
imaginava um amor pra tê-lo seu. Sabia fazê-la sentir a mais nobre felicidade
em todas as vezes que deitava sua presença sob a dela e a amava como ela
desejava.
Jamile o queria sempre com ela.
João fazia-lhe o bem que ninguém mais poderia. O seu sentimento precisava dele
para materializar-se e mostrar-se inteiro. Mas nem sempre o tinha perto. Nem
sempre ele estava além da sua lembrança viva, o que a conduzia a uma sensação
doída de abandono. Era o amor fazendo-se triste.
Mas era tão cedo para conter-se
ao amá-lo e tão tarde para deixar de amar assim. Ela era o que ele fazia com
que fosse. E sentia o que ele concebia despretensiosamente e com tamanha
exatidão.
João era a escolha de Jamile.
Ele, com cada traço do seu rosto lindo, com cada movimento ou cessar deles, com
suas palavras macias e seu silêncio denunciante.
E era a melhor escolha para o que
o amor se propunha...
Lai Paiva
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