6 de julho de 2014

A Mentira tem sabor de avelã


Quando crianças, logo cedo, nos é ensinado a não mentir. A lição tem, além de toda aquela explicação sobre honestidade e caráter, o clichê "mentira tem perna curta". Isso por si já configura uma grande mentira. A mentira tem pernas e silhueta alongadas e passos calculados, num charmoso caminhar. Mas além disso, a mentira tem gosto de avelã. Isso mesmo! Aquele gosto suave e, ao mesmo tempo, marcante. É fácil saber onde há avelã. Uma textura convidativa e um cheiro discreto, porém completamente irresistível. Aí a gente cresce, aprende a não mentir, desviando das tentações de fazê-lo, nas diversas circunstâncias que o viver propicia, mas vem alguém e mente pra gente. Mente gostoso. Gostoso demais pra nos dar outra opção além de degustar. E são tão maravilhosas certas mentiras. Tão bonitas e prazerosas. Ah, se fossem verdades. Se as mentiras mais bonitas fossem de verdade, eu até conseguiria mentí-las também. E elas poderiam se propagar até que o mundo inteiro fosse uma enorme mentira. E ninguém chegaria ao fim de verdade, pois há mentira suficiente para o mundo nao acabar nunca mais, e até pra enjoar do gosto de avelã, que sempre me pareceu impossível de se enjoar. Quanto às pernas curtas, não se enganem. Chegam a medir no mínimo um metro cada uma delas. Dependem apenas de quem as contar e de como contarão. Ao pé do ouvido, olhos nos olhos, abraçados e de mãos dadas ficam ainda melhor de saborear, ou, por melhor dizer, ficam ainda mais difícil de duvidar. Aí é viver ou morrer por elas. Mas a escolha precisa ser verdadeira!


Lai Paiva