31 de agosto de 2011
Disso, aquilo...
29 de agosto de 2011
25 de agosto de 2011
20 de agosto de 2011
Poema sem sentido
18 de agosto de 2011
Há dias e dias...
16 de agosto de 2011
Acróstico
L evando consigo
A quilo que trago
I nteiro em mim
N a terna intenção
E no querer de chegar à você...
Lai Paiva
15 de agosto de 2011
14 de agosto de 2011
Lua Cheia
10 de agosto de 2011
4 de agosto de 2011
Seus olhos dele
Chovia torrencialmente. Lá fora daquela ampla e sóbria casa deles, uma sonora ventania os avisava que não estavam sós. O tempo frio lhes era companhia. E os mantinha abraçados, encobrindo um ao outro para manterem-se aquecidos e enamorados.
Em tardes assim, o tapete lhes era morada. Em meio às grandes almofadas felpudas, às taças de vinho tinto, ao som de lindas e suaves canções e envoltos em espessos cobertores.
Beberam muitas garrafas...
Anita tinha olhos aflitivos. A chuva trazia consigo trovões e relâmpagos, o que a assustava, embora lhe encantasse. E isso enaltecia ainda mais a beleza desses seus olhos castanhos claros.
Plínio acolhia seus olhares nos dele, guardando-os pra si, protegendo-os de olhares alheios. Ele mantinha uma relação exclusivista com os olhos de Anita. Tinha fixação pelo movimento de seus cílios alongados, pela cor de suas íris, pelo brilho de suas pupilas, pelo formato expressivo que jamais viu igual.
Quando olhava para ela, continha o piscar de seus olhos para não perder um instante sequer do piscar dos dela.
Anita levaria Plínio aonde quisesse, através dos seus olhos. Sem que ele sequer se movesse.
E ele costumava beijá-los delicadamente, com os lábios ávidos por sentir aquele gosto do mar que possuíam. E que lhe inebriavam. Que só ali encontrava.
Naquela tarde, depois que se beijaram intimamente, um em cada parte nua do corpo do outro, depois de sentirem seus corpos exaustivamente movimentando-se, entrando um no outro, misturando o cheiro e o sabor que o sexo deles exala, ele a fizera prometer que jamais deixaria que outro alguém a beijasse nos olhos, a tocasse ali, pois que eram dele, só dele e assim deveriam ser. Não importasse onde estivesse. E ela assim prometeu. Satisfeita por encontrar abrigo pros seus olhares, pra todos aqueles olhares que ainda havia de exprimir.
Desejavam-se com cuidado. Um sentir puro, mas forte. Que os fazia tomar conta de si. Que os fazia tocar-se com carinho, com apreço. Sutilmente, mas com a exatidão de quem conhece bem cada toque esperado pelo outro.
Os olhos de Anita falavam por si. E usavam a melhor linguagem. As melhores palavras silenciadas. E convenciam perfeitamente.
Plínio sabia que falavam pra si... Ou ao menos fazia sua esta leitura.
Anoitecera ainda sob chuva, porém a ventania emanava um som mais suave, menos urgente. As árvores lá fora não pareciam mais querer estar entre eles.
Seus olhos acalmaram-se.
Piscaram algumas vezes. Ele contou consigo. Maravilhado com aqueles movimentos. Excitado, até. Como se os fosse lamber, chupar, morder, penetrar. Sentindo assim em segredo.
Moveram-se delicadamente, tomados de charme, de intenção e de vinho. Olhares embriagados sob aqueles outros olhares e afagos. Úmidos, brilhantes, anoitecidos. Por fim cessaram. E suas pálpebras caíram-lhe como cortinas anunciando o fim do espetáculo.
Plínio permaneceu ali, acariciando os contornos, delineando os espaços entre os olhos dela. Friccionando seus lábios quentes, buscando novamente o sabor que tinham.
Até que se passaram as horas daquela noite inteira. Findando-a.
Ele não dormiu. Desfrutou de seus momentos comovidamente entregue à admiração que sabia ser mais forte que aquela tempestade de outrora. Mais forte que ele, até.
Anita perdera os reflexos. Os mesmos se esvaíram, foram levados de si.
Plínio, imerso naquela ânsia em guardar os olhos de Anita, de repente, percebeu-se a sugá-los com toda a força que havia de ter. Ela mexeu-se levemente, buscando o fio de consciência que talvez restasse, querendo despertar, mas impedida pelo vinho que lhe roubara os sentidos. Estava de mãos e pés atados. Amarrados com fitas de cetim vermelho, com várias voltas que tornavam em vão sua tentativa de se esquivar. Mas ele teve o cuidado, ainda assim, de não machucá-la. Tomou cuidado em não fazê-lo, em imobilizá-la sem feri-la fisicamente. Ela era o seu bem. O seu sentir inteiro. A sua Anita.
Na boca uma grossa fita adesiva silenciava seu desespero, caso viesse a declará-lo, embora fosse certo que seus lábios não se uniriam para gritar algo.
Seu corpo parecia querer ser ouvido, mas não tinha mais ritmo, nem voz. Tornara-se vencível.
Sem muita espera, Anita entregou-se. De olhos beijados.
Lágrimas lhe escorreram nas maças do rosto e um arrepio intenso a tomou. Deixou seus seios, ainda nus e rijos, mais eloqüentes.
Ele os lambeu ternamente. Sugou seu último suspiro. E aquele gosto perfeito lhe fez voltar-se pros olhos.
Aqueles que ela havia prometido, pra sempre.
Aqueles que ele tomava pra si. Agora.
Lá fora a chuva partira. Dentro de Anita, a vida.
Numa resposta àquela angústia, seu coração se aquietou.
Plínio vendou os dois espaços vazios de onde tirara os olhos dela. Cobriu aquelas curvas lindas de seu corpo, como se a vestisse um vestido.
Envolveu os olhos, agora seus, num lenço cinza, desses que se usa pra enxugar lágrimas ou suor, e saiu.
O tempo havia cedido àquele instante insano e apaixonante. E Plínio caminhou sem saber ao certo para onde. Mas certo de que não devia mais permanecer ali.
Ela iria com ele aonde seus olhos fossem.
Estava certo. Certo de que jamais amou igual. Nem amaria. Ainda que aqueles olhos dela, aqueles olhos seus, estivessem a enfeitar outra face.
Jamais voltaria a amar outros olhos assim.
Apenas esses. Dessa cor que nunca houve outra.
Desse brilho que ele não viveria sem...
Lai Paiva